quinta-feira, 22 de abril de 2021

A SESMARIA DE JAGUARIBE EM ABREU E LIMA

 

A SESMARIA DE JAGUARIBE EM ABREU E LIMA/PE

Pág. 21-28 - Livro: De Maricota a Abreu e Lima por Flávio Alves

 


Um dos primeiros engenhos construído nas terras pernambucanas foi o Engenho Jaguaribe, construído na sesmaria[1] de Jaguaribe, sesmaria esta que foi a primeira das doações feitas por Duarte Coelho, resgistrada em 1540. A palavra Jaguaribe deriva do tupi yaguar-y-pe, que significa “rio da onça”[2] ou “rio do jaguar”. [3]E, se estendia da “feitiçaria dos Indios direito a onde se mete o rio Jaguaribe, com o rio que se chama Ayamá,” e se limitava ao sul com o rio Murueira, posteriormente chamado de Mirueira. Algum tempo depois o nome Ayamá se transformou em Inhamã. A palavra Inhamã, significa círculo d’água, rodeio d’água ou em torno d’água. [4]A região faz parte atualmente tanto da cidade de Abreu e Lima como a  Igarassu.

A terra foi dada a Vasco Fernandes de Lucena e toda a sua descendência, que gozaria de isenção de impostos perpetuamente, em agradecimento por ter acompanhado Duarte Coelho ao Brasil, e “commigo vieram povoar esta minha Villa de Olinda”. A esta altura Olinda já era a sede da capitania. Esta doação foi assinada por Bartholomeo Dias e o governador de Pernambuco, Duarte Coelho, em 24 de julho de 1540.[5] Podemos considerar este documento como o registro de nascimento do povoado que futuramente seria a manjedoura da cidade de Abreu e Lima.

Vasco Fernandes de Lucena deixou a mulher e os filhos em Portugal e aqui se tornou muito importante no processo de alianças com os índios devido à sua habilidade com a língua dos nativos, conforme informa Frei Vicente de Salvador[6]. Era considerado um feitiçeiro pelos nativos. O historiador Tácito Luiz Cordeiro Galvão, que descende de Vasco Fernandes, afirma que assim como ele, outros historiadores consideram-no como o segundo Adão pernambucano, pois o mesmo tivera muitos filhos com as indígenas nas terras do Jaguaribe, Jerônimo de Albuquerque é considerado o primeiro Adão pernambucano. Além de Cavaleiro da Casa Real, Vasco Fernandes foi nomeado alcaíde mor de Olinda.

Outras terras também foram sendo doadas pelo donatário para outras pessoas de acordo com a boa vontade do governador com o intuito de povoar, usar e explorar as terras pernambucanas. A tarefa de construir um Engenho nas terras de Jaguaribe não era fácil, pois o desbravador deveria abrir a clarera na mata, construir moradias, derrubar matas virgens para o plantio e com muito trabalho construir tudo a partir do nada. Além de tomar cuidado com os ataques dos nativos indígenas e dos animais selvagens. A vida não era nada fácil para os primeiros moradores da região que viera a se tornar Abreu e Lima.

Outra parte das terras adjacentes ao rio Jaguaribe, cerca de quatrocentas braças de terras, ou seja 731 metros, ao lado norte do rio, foram doadas em 20 de agosto de 1566 à Vicente Fernandes, Piloto de Carreira das Índias e carpinteiro da Ribeira da Vila de Olinda[7]. Seus herdeiros, Antônio Gonçalves, como administrador de sua mulher, pede posse da sesmaria de Jaguaribe, dada pelo primeiro governador de Pernambuco no dia 28 de julho de 1626.  

Nas lutas contra os índios caetés, iniciadas em 1553, os engenhos de Igarassu e Jaguaribe foram grandemente danificados, era o risco que os primeiros povoadores da região tinham que enfrentar constantemente. As terras do Jaguaribe doadas por Duarte Coelho só foram demarcadas  judicialmente 33 anos após a doação da sesmaria, por requerimento ao ouvidor geral do Brasil, desembargador Antônio Salema a pedido de seus herdeiros: Beatriz Dias (viúva de Vasco Fernandes) e seus filhos Sebastião Fernandes de Lucena, Francisco Fernandes de Lucena, e Clara Fernandes de Lucena no dia 12 de junho de 1573. Assim as terras do Jaguaribe foram demarcadas entre os filhos de Vasco Fernandes de Lucena.

Por volta de 1573 as terras de Igarassu até Olinda já estavam distribuídas e começavam a ser povoadas por toda a faixa litorânea, lembrando que o processo de povoamento se deu a partir de Igarassu, isto é, do norte em direção a Olinda. Por volta de 1591 os beneditinos adquiriram as terras de Manuel Gondinho, encravadas na área do Jaguaribe.[8]

Segundo Tácito Galvão, a região norte da Vila de Olinda era composta por três grandes sítios: o primeiro denominado Paratibe, doado a Jerônimo de Albuquerque, que passou para Gonçalo Mendes Leitão como dote de casamento. O segundo sítio, denominado Jaguaribe, partido em quatro partes: Vasco Fernandes de Lucena e a seus três filhos, nos quais estão os engenhos Inhamã e Jaguaribe.  E o terceiro grande sítio, denominado “Merueira”, área de sesmarias menores com vários proprietários.[9]

A respeito da fundação do Engenho Jaguaribe, o próprio Duarte Coelho escreveu uma carta para o Dom João III solicitando um auxílio régio em 22 de março de 1548: “por êle querer fazer um engenho em uma ribeira, e em um pedaço de terra que lhe dei, pede a V. Alteza por ajuda de o fazer, lhe faça mercê de lhe dar licença para poder mandar algum brasil de cá para isso, o que irá fazer à costa onde não faça dano nem prejuízo..." Este registro consta no Livro do Tombo, do mosteiro de São Bento, consultado por F. A. Pereira da Costa nos Anais Pernambucanos.

Vista do rio Yaman, ao fundo Maria Farinha.

    Entre os rios Inhamã e Jaguaribe existe uma ilha sem nenhuma construção, mas tal ilha já aparece como posse em 7 de maio de 1615 há mais de 22 anos de Braz Correa de Abreu e sua mulher Luiza de Freytas. Dona Luyza de Freitas recebeu esta ilha como herança e a venderam aos padres do Mosteiro de São Bento de Olinda, representados pelo seu superior o Prior Frei Bernado da Madre de Deus pela quantia de doze mil contos de réis. Provavelmente Dona Luyza seja descendente de Vasco Fernandes de Lucena.

As terras  foram sendo doadas e negociadas aos poucos como se vê na escritura de Manuel Godinho e sua mulher Maria Fernandes, em 18 de julho de 1698 e também:

“Uma ilha situada entre o rio Jaguaribe e o Aiamá, chamado hoje de Inhaman, vendida por Braz Correia de Abreu e sua mulher, em 7 de maio de 1615; um partido de canas vendido por Paulo de Almeida em 26 de novembro de 1647; um sítio de terras em Jaguaribe, doado por Dona Inês de Oliveira para o mosteiro de São Bento e que tomou posse em 7 de janeiro de 1660.”[10]

O frei Bento da Purificação tomou posse das terras do Jaguaribe prometidas por uma senhora chamada D. Inês de Oliveira em testamento lavrado em 29 de outubro de 1647, no qual dizia: “... deixo aos reverendos padres de São Bento, para que por minha alma digam a valia dela em missas...” . Os fiéis católicos temiam o purgatório e usavam suas riquezas adquiridas ao longo da vida para fazer doações à Igreja, a fim de “amenizar” sua situação no pós-vida, diminuindo seus dias de estadia no purgatório[11].

1.2 O impacto da presença dos holandeses nas terras do Jaguaribe

Contudo, os holandeses estavam cobiçando o lucrativo negócio do açúcar na colônia portuguesa brasileira. Após 1621, as autoridades holandesas embarcaram numa política agressiva contra o Império colonial português, é quando se funda a Companhia das Índias Ocidentais na Holanda. Assim, tentaram tomar posse de Salvador, na Bahia em 1624, mas foram expulsos no ano seguinte. E em 1630 atacam a colônia mais um vez com 67 navios fortemente armados e 7.300 soldados, [12]desembarcando na praia de Pau Amarelo em Pernambuco, marcham até Olinda e tomam a cidade. Em 1632 tomam a cidade de Igarassu, e em 1633 a Ilha de Itamaracá.


Com a chegada dos holandeses, quase metade engenhos foram abandonados pelos moradores luso-brasileiros com medo dos invasores. O sistema de produção açucareiro foi gravemente afetado pela guerra, pois muitos foram desmontados, roubados ou tiveram suas estruturas danificadas. Até mesmo os escravos aproveitaram a confusão para fugir e engrossar os quilombos. Afirma Evaldo Cabral de Mello:

Em 1637 e 1638, os engenhos abandonados foram confiscados pela Companhia e revendidos a prazo a comerciantes holandeses e judeus, a burocratas e oficiais do exército e a moradores luso-brasileiros. Os agentes e correspondentes do comércio dos Países Baixos estenderam créditos abundantes e a largo prazo aos novos proprietários, para que reconstruíssem suas fábricas, comprassem negros e fundassem safras.[13]

O que pudemos encontrar sobre o estado dos engenhos na região onde hoje compreende Abreu e Lima durante o período holandês é um relatório apresentado por Adriaen van Der Dussen, do Conselho dos XIX na Câmara de Amsterdã, em 4 de abril de 1640. Onde aparece citado os Engenhos Inhamã e Jaguaribe: Sobre o primeiro, ele fala de “Aiama de Riba”, que era um engenho d’água, moente, pertencente aos herdeiros de Pedro da Rocha Leitão, com nove lavradores, e o “Aiama de Baixo”, engenho d’água, moente, pertencente a Manoel Jacome Bezerra, com seis lavradores. Sobre o Engenho Jaguaribe, de água e moente, pertencente à viúva de Jerônimo Cabral, ambos pertencentes à jurisdição de Igarassu.[14] Não sabemos se a destruição do Engenho Jaguaribe no período holandês se deu em lutas contra os invasores ou no abandono dos seus moradores, ou até mesmo em decorrência de roubos.

Contudo, os holandeses foram golpeados pela crise do preço do açúcar em Amsterdã que começara em 1638, obrigando a administração holandesa a cobrar dívidas aos proprietários dos Engenhos, tornando mais fácil para os portugueses formentar a rebelião de proprietários endividados contra o domínio holandês. Mas a expulsão definitiva dos holandeses teve início em junho de 1645, através da eclosão de uma insurreição popular liderada pelo paraibano André Vidal de Negreiros, pelo senhor de engenho João Fernandes Vieira, pelo índio Felipe Camarão e pelo negro Henrique Dias. As batalhas duraram até 1654, quando os holandeses foram expulsos de Pernambuco definitivamente através da assinatura do Tratado de Taborda no Forte das Cinco Pontas, o nome Taborda se deve ao fato de ter sido assinada no Campo do pescador Manuel Taborda[15], no Recife, as 23:00 horas da segunda-feira, no dia 26 de janeiro de 1654.[16] Assim, os holandeses deixaram Pernambuco e um legado lendário que permanece vivo no imaginário popular recifense.

Por volta de 1674 o Engenho Jaguaribe encontrava-se em ruínas, conforme consta no testamento de João Fernandes Vieira : “comprara ditas terras, mas – sem fábrica alguma, estando tudo por terra, - e só restando do engenho que ali havia alguma ferragem- os cobres miudos, duas tachas, um paiol e outras miudezas de ferramenta”. Assim declarara a verba 28 do testamento do mestre de campo João Fernandes Vieira, celebrado em 1671.[17]

Expulsos os holandeses, sabemos que nessa propriedade, entre a estrada Velha e a Praia de Maria Farinha, os beneditinos construíram a capela de São Bento[18], atualmente em ruínas, tornando-se o mais importante ponto turístico arqueológico da cidade de Abreu e Lima.  A partir da chegada dos beneditinos à região, as terras adjacentes ao engenho passaram para os domínios dessa ordem religiosa. Segundo as pesquisas da arqueóloga Mércia Carrera de Medeira, na documentação histórica desta propriedade foram encontradas várias construções, tais como:

Ruínas da Igreja de São Bento

(...) uma capela, a casa dos monges e senzalas; uma olaria, onde se fabricavam telhas, tijolos e louças de cerâmica; um engenho de farinha de mandioca; produzia-se sal; cultivavam-se mandioca, arroz, feijão e milho. Além de todas essas atividades produtivas, os beneditinos também possuíam, nesta propriedade, um dos principais fornos de cal desta época, conhecido como Forno da cal de São Bento.[19]

A capela de São Bento[20] foi construída numa altitude de 69 metros acima do nível do mar, distando 4 km do centro de Abreu e Lima na zona rural da cidade. Sua construção foi iniciada no século XVII e manteve-se em funcionamento até o final do século XIX. [21]

Ruínas do Forno de
Cal de São Bento

As terras de Jaguaribe eram passadas para donos particulares ou para ordens religiosas, nos fins do século XVII. As terras constituiam uma importante e rendosa propriedade, com uma capela, casas de vivenda, vastos campos de plantações, e fornos de cal de excelente qualidade, conhecida no mercado como “Cal de São Bento” que eram produzidos por mão-de-obra escrava pertencentes à tal Ordem religiosa. Até que em 15 de janeiro de 1831, por uma decisão de uma reunião capitular realizada em Olinda, os padres libertaram todos os escravos de sua propriedade, “por ser a escravidão oposta à razão, à consciência e à religião.”[22] Isto com certeza trouxe problemas para o funcionamento das propriedades religiosas que dependiam da mão-de-obra escrava.

Continua...

[1] Dava-se o nome de sesmaria às terras distribuídas pelo donatário para o uso e a plantação de cana-de-açúcar, mandioca e milho. Segundo Costa Porto (1965:37) cabia ao sesmeiro a propriedade plena da terra, e a obrigação de fazê-la produzir em no máximo cinco anos. O não-cumprimento dessa cláusula implicaria em um multa, e em caso extremo, na perda da sesmaria.

[2] Para o escritor Tácito Luiz, o estudioso Alfredo Carvalho se baseia em Theodoro Sampaio para classificar o significado da palavra Jaguaribe. GALVÃO, Tácito Luiz Cordeiro. Op. Cit. Pág. 34.

[3] PERNAMBUCO. Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco (Condempe Fidem). Município Abreu e Lima. Recife, 2015. Disponível em: http://www.condepefidem.pe.gov.br/c/document_library/get_file?p_l_id=18393234&folderId=18394117&name=DLFE-89503.pdf. Acesso em: mar. 2015.

[4]  MELLO, Mário. Op. Cit. Pág. 48.

[5] PEREIRA DA COSTA, Francisco Augusto. Anais Pernambucanos. 2ª edição. Recife: Fundarpe, 1983. Vol. 1. Pág. 208. A monumental obra de Pereira da Costa reúne informação histórica sobre Pernambuco ao longo de quatro séculos e foi dividida em vários volumes. A obra consultada está disponível no Arquivo Público da cidade de Olinda.

[6] GALVÃO. Op. Cit. Pág. 27.

[7] GALVÃO. Op. Cit. Pág. 38.

[8] PEREIRA, Francisco Augusto. Op. Cit. Pág. 404.

[9] GALVÃO. Op. Cit. Pág. 39.

[10] PEREIRA, Francisco Augusto. Op. Cit. Pág. 404.

[11] No Brasil Colônia do séc. XVIII, era comum certas irmandades religiosas e matrizes paroquiais pedir à Santa Sé a concessão de indulgências plenárias que, de acordo com a doutrina do purgatório, garantiriam a total remissão das penas temporais. Acreditavam que as missas fúnebres rezadas teriam o poder de remir as penas daqueles defuntos em especial. Tese da Doutora Anne Elise Reis da Paixão “ A Crença no Purgatório, a prática das indulgências e sua aplicação no Rio de Janeiro setecentista”. Publicada da Revista de História, Edição 22, V.8, N.3 (Set./Dez.2016).

[12] MELLO, J. A. Gonçalves de. Domínio holandês na Bahia e no Nordeste – Difel, São Paulo.

[13] MELLO, Evaldo Cabral de. Imagens do Brasil holandês 1630-1654.

[14] MELLO, J. A. Gonsalves de. Fontes para a História do Brasil Holandês. I – A Economia açucareira. Recife: Pró-Memória, 1981. Pág. 156.

[15] Girão, R. Pequena História do Ceará, Fortaleza. Editora Instituto do Ceará, 1967. pág. 102.

[16] Hulsman, L; WITH, Gisbert de en PAES Anna. De geschiedenis van het huwelijk van een Dordtenaar en een Braziliaanse in de zeventiende eeuw in. Oud Dordrecht 23 2005, p. 44.

[17] PEREIRA, Francisco Augusto. Op. Cit. Pág. 404.

[18] A pesquisadora Mércia Carrera de Medeira

[19] CARRÉRA, Mércia. Reconstituição de uma fazenda colonial: Estudo de caso Fazenda de São Bento de Jaguaribe. Tese (Mestrado em Arqueologia – Conservação do Patrimônio da Universidade Federal de Pernambuco) Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Pernambuco. Recife, pág. 15, 2005.

[20]  A Pós-Graduação em Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco, sob a coordenação da Dra. Cláudia Oliveira, vem desenvolvendo pesquisas arqueológicas nesta área, dotada de um rico potencial para o conhecimento da pré-história e da história colonial no Nordeste. Foram realizadas prospecções arqueológicas na Fazenda de São Bento de Jaguaribe, nas ruínas dos engenhos Jaguaribe e Ayamma, em fornos de produção de cal, além de aldeias indígenas.

[21] Ibidem. Pág. 51.

[22] PEREIRA, Francisco Augusto. Op. Cit. Pág. 404.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

A HISTÓRIA DO BAIRRO DO FOSFATO EM ABREU E LIMA/PE

A história do bairro do Fosfato

O bairro do Fosfato possui uma história bem interessante, e se deve exatamente à exploração do fosforita na região. O minério foi descoberto na faixa costeira de Pernambuco e Paraíba primeiramente pelo professor Paulo José Duarte em 1949. E é muito utilizado como fertilizante fosfatados. As reservas oficiais na Região Metropolitana do Recife montam em 32.242.361 toneladas de fosfato.

JK na Fosforita de Olinda, 1958.
O fosfato foi explorado pelo DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral e pela Fosforita Olinda S.A. – FASA. Ambas pioneiras na indústria de fertilizantes. A FASA, cujo presidente era o Sr. Domingos da Costa Azevedo, inaugurou uma nova fase de empreedimento com a presença do então presidente Juscelino Kubitschek e sua comitiva de ministros no dia 19 de janeiro de 1958. Neste evento, o então presidente da República enfatizou que a FASA “cumpriria quase sozinha a meta da produção de adubos traçada pelo seu governo.”[1] Em seus 15 anos de funcionamento (1953-1968), a FASA atendeu a uma demanda de cerca de 40% do mercado nacional de fertilizantes[2].

Antiga Fábrica Fosforita de Olinda, 1960. 
Revista O Cruzeiro -
Fundação Biblioteca Nacional/RJ.


Mas, infelizmente o Sr. Costa Azevedo, um dos donos da Companhia veio a felecer um ano depois, e a sua fábrica começou a decair por diversos fatores técnicos, econômicos e políticos[3], principalmente devido à concorrência com a importação do mesmo produto da Flórida- EUA, culminando na sua falência em 1967. O terreno da sede da fábrica deu origem ao bairro Jardim Brasil, em Olinda. As áreas exploradas foram sendo loteadas ou abandonadas e deixaram enormes e profundos buracos que foram imundados e transformaram-se em lugares de afogamentos. [4]
Antiga Fábrica Fosforita de Olinda,
Peixinhos - Olinda/PE. (28 de maio de 1960)
Revista O Cruzeiro.

Uma dessas áreas exploradas em Abreu e Lima deu origem ao bairro do Fosfato, onde muitos ainda se lembram dos buracos profundos que ficaram cheios de água, vindo depois uma ocupação desregular após a desativação da área de exploração. Fato que se observa pelas ruas não planejadas, estreitas, muitos becos e vielas. A região do Fosfato possui um solo massapé e apresenta todas as dificuldades de qualquer bairro pobre de uma grande cidade. Faltava investimentos governamentais na educação, saúde e infra-estrutura.

Segundo as áreas mapeadas, tanto a região leste do centro da cidade, como os bairros da Matinha e parte de Caetés Velho também possui reservas de fosfato no seu subsolo, embora as ocupações e a própria BR 101 não viabilizassem a exploração.[5]

As duas primeiras imagens abaixo são da FAB - Força Aérea Brasileira da região que compreende o bairro em dois momentos: 1975 e 1988. Já a terceira imagem é uma imagem de satélite do Google da mesma região em 2018. Atualmente o bairro apresenta péssimos índices de violência, sendo mencionado diversas vezes nos noticiários. O seu desenvolvimento socio-econômico é bem abaixo dos demais bairros. Contudo, é um dos bairros mais conhecidos da cidade, sendo o quinto bairro mais populoso da cidade e possui uma população estimada em 2010 de 6.670 habitantes, segundo o IBGE. 






 

FONTE: SOUZA, Flávio Alves Leite de (2019). DE MARICOTA A ABREU E LIMA, A História da Cidade de Abreu e Lima. Recife: CEPE. pp. pág. 75-79.

[1] Diário de Pernambuco, 1958, pág.1

[2] MOURA, Sérgio de Arruda de. Exploração do fosfato começa a gerar polêmica. Diga, Olinda, Olinda, 06 a 19 jul. 1985.

[3] REZENDE, Nélio das Graças de Andrade da Mata. O fosfato de Olinda e os conflitos de mineração. Recife: CPRM, 1994.

[4] PAULA, Zuleide de. Peixinhos, um rio por onde navegam um povo e suas histórias.

[5] REZENDE, Op. Cit. Pág. 9.