ABREU E LIMA,
A HISTÓRIA DO NASCIMENTO DE UMA CIDADE[1]
SOUZA, Flávio Alves Leite de.[2]
Palavras-Chave: História Política, Sociedade, Pernambuco, Abreu e Lima.
Este artigo procura
trazer uma narrativa da história da cidade de Abreu e Lima/PE. Embora as fontes
sejam escassas, o autor através de uma ampla pesquisa de documentos e fontes
históricas, procura contar a história nunca antes organizada. O autor procura
resumir todas as informações históricas sobre a região que compreende atualmente
o município de Abreu e Lima: Engenho Jaguaribe, Maricota e distrito de Abreu e
Lima. E, embora ofereça um resumo historiográfico do lugarejo nos períodos do
Brasil Colônia e Império, o recorte e a ênfase historiográfica repousa sobre o
momento da emancipação do distrito de Abreu e Lima da cidade do Paulista, em
1982. Através dos arquivos, das atas de reuniões, dos periódicos da época e
entrevistas com os partícipes do movimento de emancipação, o autor apresenta
uma história pouco conhecida. Quem são os agentes que se moveram para promover
o nascimento da cidade de Abreu e Lima, como se deu esse processo e como
conseguiram, são perguntas que se procura responder neste artigo.
ABSTRACT
Keywords: Political History, Society, Pernambuco, Abreu e Lima.
This
article seeks to bring a narrative of the history of the City of Abreu e Lima
in the State of Pernambuco, northeast of Brazil.
Although
the sources are scarce, the author through an ample search of documents and
historical sources, tries to tell the history never before organized. The
author seeks to summarize all the historical information about the region that
currently comprises the municipality of Abreu and Lima: Engenho Jaguaribe,
Maricota and district of Abreu e Lima. And, although it offers a
historiographic summary of the village in the periods of Brazil Colony and
Empire, the cut and the historiographic emphasis rests on the moment of the
emancipation of the district of Abreu and Lima of the city of the Paulista, in
1982. Through the archives, meetings, periodicals of the time and interviews
with the participants of the emancipation movement, the author presents a
little known history. Who are the agents who moved to promote the birth of the
city of Abreu and Lima, how did this process take place and how did they succeed,
are questions that we seek to answer in this article.
INTRODUÇÃO
PERNAMBUCO foi uma das
capitanias mais ricas e prósperas do Brasil Colônia. Mas, um dos culpados dessa
grande empreitada foi o astuto desbravador Duarte Coelho Pereira. Quando o Rei
Dom João III doou a capitania de Pernambuco à este rico navegador, em 10 de
março de 1534, as terras compreendiam da foz do rio São Franscisco até o Rio
Santa Cruz medindo cerca de sessenta léguas, que se estendiam pelo interior até
os limites da linha do Tratado de Tordesilhas, até uma distância de 10 léguas
da costa, que na verdade ninguém sabia ao certo onde ficava. [3]O
que poucos sabem é que o atual estado do Alagoas fazia parte desta capitania, [4]e
só foi desmembrado em punição à Pernambuco pela Revolução de 1817.[5]
E era exatamente o
lucro que a Coroa portuguesa desejava tirar da Capitania de Pernambuco quando
enviou o seu primeiro governador, Duarte Coelho Pereira. Além de proteger a
colônia da invasão francesa. [6]O
maior desejo do rei era que o mesmo encontrasse ouro[7],
e fizesse da enorme porção de terra sob o seu poder uma boa fonte de lucros
enquanto afastava os cobiçosos franceses e holandeses. Quando Duarte Coelho
chegou em Itamaracá, no início do séc. XVI, tratou logo de destruir as feitorias
rivais para confirmar o domínio português.
Um dos primeiros
engenhos que foi construído nas terras pernambucanas foi o Engenho Jaguaribe, sendo
também uma das primeiras doações feita por Duarte Coelho em 1540. E, se
estendia da “feitiçaria dos Indios
direito a onde se mete o rio Jaguaribe, com o rio que se chama Ayamá,” e se
limitava ao sul com o rio Murueira, posteriormente chamado de Mirueira. Algum
tempo depois o nome Ayamá se
transformou em Inhaman. A região compreende atualmente tanto a cidade de Abreu
e Lima como a de Paulista. A terra foi dada a Vasco Fernandes de Lucena e toda
a sua descendência, que gozaria de isenção de impostos perpetuamente, em
agradecimento por ter acompanhado Duarte Coelho ao Brasil, e “commigo vieram povoar esta minha Villa de
Olinda”. Esta doação foi assinada por Bartholomeo Dias e o governador de
Pernambuco, Duarte Coelho, em 24 de julho de 1540.[8]
Podemos considerar este documento como o registro de nascimento do povoado que
futuramente seria a manjedoura da cidade de Abreu e Lima.
1.
O Início do povoamento
Desde então, o povoado
que crescia tinha dois pólos principais: O Engenho Jaguaribe e nos fins do
século XVIII, um comércio localizado às margens da Estrada Real, chamado de
Maricota. O Engenho Jaguaribe, tão vivo em 1812, como narra o cronista Henry
Koster em seu Livro: “Viagens ao Nordeste do Brasil”, sucumbiu aos poucos,
sobrando apenas ruínas. Todo o aglomerado humano que se estabeleceu na região
de Maricota se deve à estrada pública que liga “a Vila de Cosmos” com a de
Olinda. Atualmente, faz parte da BR 101, e que corta o centro da cidade,
constituindo-se a principal rodovia da cidade.
O nome “Maricota”
aparece pela primeira vez em um documento de 16 de fevereiro de 1784,
encontrado nos arquivos da igreja católica de Cosme e Damião em Igarassu,
referindo-se ao batismo de Francisco Nunes de Oliveira, que aconteceu na capela
São Miguel em Inhaman, onde diz que seus pais eram “residentes em Maricota”.
Nos anos seguintes, a povoação surgida nessas terras, a meio caminho entre o Olinda
e Igarassu, tornou-se um local acolhedor para os viajantes, principalmente
homens de negócios que ali paravam para refeições ou pernoitar. A tradição oral
diz que este nome, Maricota, é oriundo de uma comerciante chamada Maria que
possuía seu comércio no trecho da “estrada dos tropeiros”, onde hoje é o
cruzamento da BR 101 e a Av. Capitão José Primo no centro da cidade de Abreu e
Lima. [9]
A respeito da fundação
do Engenho Jaguaribe, o próprio Duarte Coelho escreveu uma carta para o Dom
João III solicitando um auxílio régio em 22 de março de 1548: “por êle querer fazer um engenho em uma
ribeira, e em um pedaço de terra que lhe dei, pede a V. Alteza por ajuda de o
fazer, lhe faça mercê de lhe dar licença para poder mandar algum brasil de cá
para isso, o que irá fazer à costa onde não faça dano nem prejuízo..."
Como consta no Livro do Tombo, do mosteiro de São Bento, consultado por F. A.
Pereira da Costa nos Anais Pernambucanos.
Jaguaribe é um nome de
origem indígena: yaguár-y-pe que
significa “rio da onça” ou “rio do jaguar”. [10]Nas
lutas contra os índios caetés, iniciadas em 1553, os engenhos de Igarassu e
Jaguaribe foram grandemente danificados.
As terras constituiam
uma importante e rendosa propriedade, com uma capela, casas de vivenda, vastos
campos de plantações, e fornos de cal de excelente qualidade, conhecida no
mercado como “Cal de São Bento” que eram produzidos por mão-de-obra escrava pertencentes
à tal Ordem religiosa. Até que em 15 de janeiro de 1831, por uma decisão de uma
reunião capitular realizada em Olinda, os padres libertaram todos os escravos
de sua propriedade, “por ser a escravidão oposta à razão, à consciência e à
religião.”
Por volta de 1674 o
Engenho Jaguaribe encontrava-se em ruínas, conforme consta no testamento de
João Fernandes Vieira : “comprara ditas
terras, mas – sem fábrica alguma, estando tudo por terra, - e só restando do
engenho que ali havia alguma ferragem- os cobres miudos, duas tachas, um paiol
e outras miudezas de ferramenta”. Assim declarara a verba 28 do testamento
do mestre de campo João Fernandes Vieira, celebrado em 1671[11].
Contudo, a fábrica foi
restaurada, e quem nos conta como era o Engenho Jaguaribe é o inglês Henry
Koster, que tomou posse do Engenho em abril de 1812. Segundo ele, na época, o
Engenho tinha muitos bois, maquinário, acessórios e escravos. A estrutura
estava toda pronta e em funcionamento. Henry Koster não tinha o interesse de
nos contar os pormenores da fauna, da vida e da cultura do povo que conhecera,
apenas tomava notas exatas, o que lhe rendeu o título de The Accurate Koster, “O exato Koster”. [12]
Ele residiu no Engenho durante 1 ano e 8 meses, e veio ao país por recomendação
médica para se tratar de uma doença respiratória, e segundo os médicos da
época, o clima tropical e mais quente iria ajudá-lo.
Koster escrevia algumas
notas enquanto embalava na rede da casa grande, pisava o barro massapê
nordestino de onde florescia a cana-de-açúcar. Não era nenhum rico, mas como
dizia Machado de Assis, era um “mais ou menos”. Henry Koster é um homem
viajante à procura não sei de que, talvez da cura ou apenas de aproveitar o
tempo que lhe restava de vida. Quando arrendou o Engenho Jaguaribe, pôde ter
uma experiência tipicamente brasileira com os escravos, “canaviais, vizinhos arengueiros, superstições, vaidades velhas,
bondade simples, um mundo novo que o inglês mergulha gostosamente.” Neste
contexto, Koster nos descreve como era a vida no Engenho Jaguaribe e arredores.
Segundo Koster,
Jaguaribe possuía uma bela vista de onde dava para se ver os manguezais,
plantações de mandioca e de milho. Até hoje a vista é bela e contempla à
distância tanto a praia de Conceição como de Maria Farinha, pertencentes município
de Paulista, além dos rios e manguezais da região. A capela de São Bento, hoje
em ruínas, funcionava com atividades religiosas regulares, apesar de inacabada
e com morcegos como moradores em 1812, ouviam-se de longe o toque freqüente do
sino.
As terras ao meu redor para o Norte, pertenciam aos Frades
Beneditinos; E ao Oriente a uma velha senhora; Aqueles do último eram muito
negligenciado, mas aqueles que possuíam o primeiro estavam em alta ordem. Para
o Sul, além da madeira através da qual passei chegando a Jaguaribe, são as
terras dos paulistas; E para o oeste e o Noroeste são algumas terras de cana
excelentes, pertencem a uma irmandade religiosa de negros livres de Olinda.[13]
Da Igreja de São Bento,
que fora construída pelos beneditinos em estilo barroco, só restam ruínas. O
local está sendo escavado por um grupo de arqueólogos, onde já foram
encontrados uma machadinha polida, artefato de fabricação e de uso indígena,
possivelmente anterior ao século XVI, um fuso de cerâmica, ossos e dentes humanos,
fragmentos de louça do séc. XVII, uma moeda portugues do séx. XIX e duas outras
sem data legível, além de uma bala de mosquete (GARCIA, Letícia. PE Quero TV,
Edições Bagaço, Recife, 2007).
No dia 10 de novembro
de 1848 travou-se em Maricota a primeira batalha da Revolução Praieira,
deflagrada três dias antes, na cidade de Olinda, entre os revoltosos praieiros e as forças do legalistas do
governo. No dia 1º de janeiro de 1849 foi lançado, no Engenho Inhamã, o “Manifesto
ao Mundo”, com os postulados da Revolução Praieira.
Já na segunda metade do
Séc. XIX o povoado cresce, sendo necessária a oficialização de um distrito
policial em Maricota, foi criado então no dia 22 de julho de 1863 pelo
presidente da província, João Silveira de Souza, que nomeou como subdelegado
Antônio Borges Galvão Uchoa.
Como é comum em toda
vila, em 1885 José Dias Feijó e sua esposa, Henriqueta Francisca Pereira,
separaram parte da propriedade em que moravam para que se levantasse uma capela
dedicada a São José e um cemitério, sendo este santo adotado como padroeiro da
cidade até hoje. O pároco de Igarassu, Floriano de Queiroz Coutinho iniciou com
a comunidade a construção da capela.
2.
A vida em Maricota no início do século XX
Na década de 1920,
Maricota era uma terra com humildes casas, mas que não dispunha sequer de uma
escola pública :
“Maricota é um pequeno povoado do histórico e decadente
município de ‘Iguarassu’. De vida calma, quase entorpecido pela nenhuma
‘scentelha’ do progresso ‘civilisador’, Maricota, o pequeno povoado do
município acima é de uma pacividade, de parte dos seus poucos habitantes, de
fazer admiração.
Assim descrevia o
Jornal do Recife sobre o lugarejo em 26 de junho de 1928 antes de noticiar um
crime que aconteceu na região. A vida religiosa de Maricota estava ligada à
Paróquia de Igarassu, como se vê no jornal “Diário da Manhã”, onde noticia que a tradicional festa dos santos
Cosme e Damião, realizada em Igarassu, deveria ter a presença confirmada do
catecismo de Maricota. [15]O
andor dos santos deveria percorrer as ruas da cidade no dia 25 de novembro de
1934. Para ajudar no transporte da população para a tradicional festa em
Igarassu, seria disponibilizado um ônibus que passaria de hora em hora na
localidade. Ainda divulgava o jornal que a festa tradicional seria presidida
pelo vigário local, Padre Joaquim Fonseca de Oliveira, e que durante o dia a noite
haveria entretenimentos populares, barracas de prendas, “fandango” e bandas de
músicas. A festa de Cosme e Damião em Igarassu continua atraindo as populações
vizinhas na atualidade.
Neste lugar marcado
pela pobreza e pelo esquecimento dos municípios de Igarassu e Paulista, aos
quais pertencia, a mensagem pentecostal foi recebida por Maria do Carmo, o
esposo e os filhos.[16]
A igreja começou a atrair mais fiéis gradativamente. O ano de 1928 ficou como o
início oficial da Assembleia de Deus em Abreu e Lima. Mas, os novos fiéis da
nova seita protestante experimentaram duras perseguições por parte daqueles que
“mandavam” em Paulista: A família Lundgreen[17],
proprietária da Companhia de Tecidos Paulista. Assumiu o “rebanho o irmão
Antônio Torres Galvão” [18].
Ele, além de pregador, também foi político e conseguiu organizar o Sindicato de
Fiação e Tecelagem em Paulista - PE. Envolvido nas causas sociais tornou-se um
ícone histórico de político evangélico a ganhar destaque na vida social secular,
chegando inclusive a ocupar o cargo de governador. Após Torres Galvão[19],
o pastor Joaquim Gomes da Silva assumiu a liderança “do rebanho” em 1938 e
conseguiu adquirir um terreno em Maricota, medindo 30 x 43, pela quantia de
dois contos de réis que era propriedade do Sr. Severino Albuquerque, onde hoje
é o Templo Central da Assembleia de Deus Abreu e Lima. Que é atualmente a maior
igreja protestante da cidade em termos de membros e número de templos.
O ano de 1969 foi um
ano em que estava em auge a guerra fria, e ainda imperava e que um dos seus
principais símbolos, à guerra do Vietnã; o Brasil, assim como outros países da
América Latina, esperava reforços dos EUA para combater os “subversivos” nos
ditos “os anos de chumbo” o período mais repressivo da ditadura militar que
teve início com o AI-5 em dezembro de 1968. Enquanto também prometiam preencher
o “vazio agrícola” do cerrado com pesados investimentos.
Foi neste contexto de
mudanças e grandes acontecimentos que assume a liderança em Abreu e Lima o
pastor Isaac Martins Rodrigues. E realiza grandes feitos, em cinco anos o
pastor Isaac Martins já começou enviar missionários para outros países. A
figura do Pastor Isaac Martins Rodrigues é marcante na história da cidade de
Abreu e Lima, onde na entrada da cidade existe uma estátua em sua homenagem.
Graças a ele, a cidade recebeu o título de cidade mais evangélica do Brasil. Hoje,
a cidade possui em 2017 uma população estimada de quase 100 mil habitantes,
segundo o IBGE. E ainda segundo o instituto, é também a cidade mais evangélica
do Brasil, com cerca de 35% da população dessa religião. E a maioria da
Assembleia de Deus.[20]
3.
O distrito que sonhava virar cidade
As discussões iam além
das questões sobre as terras que pertenceriam ou não a Igarassu ou Paulista,
mas até acerca do nome que Maricota recebeu posteriormente. O distrito de
Maricota foi criado pelo Decreto-lei Estadual n° 235, de 9 de dezembro de 1938,
pertencendo ao município de Paulista, a povoação foi oficializada com o nome de
Maricota. [21]Em
1948, pela Lei Estadual n° 421, de 31 de dezembro de 1948, o distrito de
Maricota recebeu o topônimo de Abreu e Lima em homenagem a José Inácio de Abreu
e Lima (1794-1869).
José Ignácio de Abreu e
Lima era filho de José Ignácio Ribeiro de Abreu Lima, conhecido como Padre
Roma, que participou da Revolução Pernambucana e foi executado na frente dos
próprios filhos. José Inácio de Abreu e Lima foi político, escritor, jornalista
e general, conhecido como o "Inácio pernambucano", ou como “general
das massas”, lutou quatorze anos ao lado de Simón Bolívar, um dos heróis da
independência da Venezuela. Como era maçom, seu enterro foi vedado no Cemitério
de Santo Amaro no Recife, e foi então sepultado no cemitério dos ingleses no
mesmo bairro.[22]
Em 1939 se traçava no
Estado um importante debate sobre as mudanças dos nomes dos lugares e cidades.
Importantes jornais, como o Jornal do Commércio e o Diário da Manhã, traziam
artigos sobre a “Toponimia Pernambucana”, onde ampliava o debate sobre o
decreto 235 do governo do Estado, em que procurava reformar e organizar os
limites intermunicipais e nomes das localidades. Segundo o artigo no Diário da
Manhã, os pernambucanos iriam ter dificuldades para se adaptar à novas
nomenclaturas das cidades e das vilas do Estado. Na época, a maior parte das
nomenclaturas era de origem indígena, ou de pessoas de origem pouco dignas.
Como por exemplo, Duarte Dias que era ex-presidiário, e tinha uma localidade em
seu nome.
A organização dessa
tarefa estava confiada à uma “Commissão de Reforma Administrativa do Estado”,
que por sua vez estava sob a batuta do Dr. Mário Mello, membro do Instituto
Histórico e Geográfico Pernambucano. O governo estadual já havia procurado
diminuir as repetições nas denominações de 22 cidades e vilas pelo decreto
estadual nº92 de 31 de março de 1939, seguindo a orientação do governo federal
através do decreto 311. A crítica se dava agora, porque o governo estadual
mudou o nome de 33 localidades para nomes quase que totalmente de origem
indígena: Aburá, Araçoiaba, Caetés, Calumby, Carqueja, Ibaritinga, Ibitira,
Ibiapina, Itaíba, Itapimirim e etc.
Pela solicitação do
presidente da Comissão, foi sugerida a retirada das denominações “anônimas”, em
que estava incluída Maricota. Deveriam, portanto, serem substituídas por nomes
consagrados na história da “pátria”: Camarão, Bernado Vieira, João Ribeiro,
Padre Roma, dentre outros. Neste momento a grafia de alguns nomes também
recebem mudanças, onde “Iguarassu” perde o primeiro “u”, de Morenos, saiu o
“s”, de “Tegipió” se tornou “Tejipió”. Também existe no artigo “A Toponimia do
Estado” [23],
uma menção de que 19 nomes de santos que designavam localidades em Pernambuco,
agradavam aos católicos, desapareceram por que desgradavam aos reformadores. E
lembra ainda o articulista que isso poderia trazer “pragas” sobre o Estado,
como aconteceu em 1825. Após o arcabuzamento de Frei Caneca houve uma seca
terrível, lembrada mais de cem anos depois.
As polêmicas envolviam
mais do que o nome de Abreu e Lima, mas se deveria ou não ser oficializada como
uma cidade, pois a Lei Estadual n° 4.993, de 20 de dezembro de 1963, elevou o
distrito de Abreu e Lima à categoria de município, e no ano seguinte foi
extinto, em 27 de agosto de 1964 pelo Acórdão do Tribunal de Justiça, mandado
de segurança n° 56.889. Foi extinta a Lei, mas não a vontade do distrito em se
tornar uma cidade.
As notícias
sobre o distrito de Maricota no século XX em sua maioria era de acidentes na estrada
principal da cidade. O Brasil começava a receber os automóveis, e a estrada
antes usada por viajantes à cavalo e carroças, começa a receber automóveis,
ônibus e caminhões. E começam as notícias de acidentes na principal artéria do
distrito.[24]A
estrada de Maricota não trazia apenas alimentos, vestuários, pessoas e riquezas
para o distrito. Mesmo com a duplicação da BR na década de 80, os acidentes
continuam fazendo parte do cotidiano dos moradores da região.
Na década de 40 o país
entrava na II Guerra Mundial. Depois que a Alemanha torpedeou dois navios
brasileiros, o presidente Getúlio Vargas declara guerra contra os países do
Eixo: Alemanha e Itália. O clima no mundo era de guerra, mas neste mesmo ano o
distrito de Abreu e Lima começa a receber melhorias na administração do
prefeito do Paulista, capitão José Primo de Oliveira.
Foi Capitão José Primo
quem iniciou as obras do primeiro Mercado Público de Maricota em 5 de fevereiro
de 1942, conforme anunciou no Jornal Diário da Manhã.[25]
O capitão José Primo, que atualmente possui uma importante avenida no centro da
cidade em sua homenagem, inaugurou então no dia 19 de abril de 1942, o primeiro
mercado público do distrito de Maricota, com direito à café da manhã e almoço
para autoridades e convidados, e à tarde desfie das escolas públicas. À noite
houve um “soirée” para os convidados dançarem no prédio inaugurado.[26]
O primeiro Mercado Público do distrito continuou funcionando por muitos anos e
poucos sabem que o mesmo era herança do período varguista. O prédio foi
demolido pela prefeitura recentemente. Sem dúvida, a construção do mercado
público oficializava aquela que seria a principal fonte de renda que
movimentava a futura cidade de Abreu e Lima, isto é, o comércio.
Além de Maricota seria
realizada festas em outras inaugurações como de escolas, a Vila dos Bancários
que o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários construiu na rua
América, nos Aflitos, haveria festas que faziam parte das homenagens e até
palestras sobre a personalidade do presidente Getúlio Vargas, em comemoração ao
seu aniversário. Fazia parte do populismo do período varguista o culto à
personalidade do presidente.
4.
O nascimento de uma cidade
Em 1982 o Brasil chorou
com a perca de uma das suas maiores estrelas artísticas, a cantora Elis Regina,
que com apenas 36 anos de idade, morreu em 19 de janeiro devido à uma overdose
de cocaína causando grande comoção por todo o país[27]. E para piorar, o país do futebol perde a Copa
do Mundo na Espanha. O mundo assistiu a guerra entre a Argentina e a Inglaterra
pelas Ilhas Malvinas no Oceano Atlântico. Notícia essa que ocupou a capa dos
principais jornais da época. Mas, nem tudo é lágrimas, o país podia ser
consolado com o início da redemocratização na política brasileira. Neste ano
aconteceria a primeira eleição depois de 17 anos, a primeira eleição
pluripartidária da história. Assim, em 22 estados brasileiros haveria eleição
para governador. Estas eleições estaduais repercutiram no esquecido distrito
pertencente às cidades do Paulista e Igarassu, chamado Abreu e Lima, em
Pernambuco, que ansiava por se tornar um município.
Na terra da “ciranda de
Baracho”, [28]onde
a BR 101 cortava o centro comercial espalhando crescimento econômico, ouvia-se
entre a população de maioria extremamente pobre, a voz de alguns homens ecoando
por um pequeno caixa de som pelas ruas, becos e vielas. Somente o barulho dos
hinos cantados pelos crentes competiam com o gritos dos irmãos Mário[29]
e Manoel Salviano tentando conscientizar e mobilizar a população em prol do
projeto de emancipar Abreu e Lima de Paulista.
Numa terra cuja má fama
se espalhava por toda região metropolitana do Recife e até fora, se via o
rebuliço de políticos e pessoas importantes em volta de um mesmo projeto: Tornar
Abreu e Lima uma cidade. Nessa época, Abreu e Lima tinha uma rica cultura
popular, segundo Reginaldo Silva[30]
:
[...] e a
filosofia dos Lundgreen era não permitir nenhuma manifestação cultural do povo
lá em Paulista e mandava fazer em Abreu e Lima. Na época ainda Maricota, na
época se chamava Maricota, caboclinho, mandava se fazer em Maricota, pastoril,
jogava pra Maricota, qualquer manifestação cultural do povo lá em Paulista ai
mandava fazer em Maricota, até o carnaval de rua era proibido em Paulista, era
permitido somente nos clubes.
Mas, a má fama da
cidade era devido aos seus 142 prostíbulos espalhados pela cidade. Desde muito tempo o local era parada
obrigatória para os viajantes que vinham da Paraíba e do Rio Grande do Norte, a
cidade se movimentava ainda mais nos finais de semana, devido a feira muito bem
servida de frutas, verduras, crustáceos, peixes. Muitos moradores vinham da
zona norte do estado para fazerem suas compras. O comércio era promissor,
próspero. E por isso atraía também as mulheres que trabalhavam na prostituição,
viajavam nas sextas-feiras de suas cidades mais interioranas para “a cidade dos
cabarés”, e voltavam na segunda-feira levando dinheiro para suas famílias.
Na cidade onde crescia
a prostituição, também crescia a mensagem pentecostal através da Assembleia de
Deus. Havia uma disputa por espaço entre católicos e evangélicos . Contudo, o
clima de disputa veio a se amenizar posteriormente. Mas, nem só da pregação
vivia a Assembleia de Deus. A banda de música da AD organizada pelo Maestro
Ferrolho[31]
desde a década de 30, foi também um celeiro para novos músicos famosos na
cidade e no mundo, como por exemplo, o Maestro Spok[32], cujo talento é reconhecido
internacionalmente.
A efervescência não era
apenas na cultura, a política no distrito era bem ativa. Na política do
distrito destacava-se o senhor Mário Salviano, professor de geografia pela FUNESO,
criador de aves, era um político atuante na região. Mário Salviano Marques,
filho de Pedro Salviano Filho, herdara do pai a vocação política. Já que Pedro
Salviano tinha sido sub-prefeito do distrito por duas vezes. Herdou a vocação,
mas também as amizades. E dessa amizade surgiu a oportunidade de transformar o
distrito em cidade. Segundo ele, Abreu e Lima tinha uma importante participação
política na cidade do Paulista:
[...] segundo
distrito do município de Paulista, como ela tinha um desenvolvimento mais...
com um desenvolvimento maior em relação aos outros distritos, então agente
sentiu a necessidade por aqui ter como a
um grande grupo político de pessoas que queriam realmente e interferiam
totalmente na política de Paulista pessoas lideranças muito importantes, como
Pedro Salviano, que era meu pai, Isaura de França, que era diretora do Colégio
Mário Domingos, Antônio Amaro, Sebastião Gomes de Melo, “O Baixinha”, Severino
Henrique, quer dizer era... era Dona Alice Leite, que era uma líder parteira da
área da gente... então eram umas pessoas que tinham uma influência na política
em Paulista, geralmente os prefeitos de Paulista se elegiam mais com a votação de Abreu e Lima, que decidia, Abreu e
Lima decidia os votos, isso aconteceu com Zé Veiga, com Geraldo Alves e os
outros prefeitos da época.
Segundo Salviano, o
distrito de Abreu e Lima elegera vários vereadores e tinha uma boa
representatividade na Câmara de Paulista:
Papai foi
subprefeito por umas duas vezes, Antonio Amaro também, e ai ia haver disputa,
depois dessas disputas políticas é... mas, sempre eram amigos, mas não eram
inimigos não, eram adversários, mas não eram inimigos, então quando aconteceu,
de como Abreu e Lima sempre teve representatividade na Câmara, nós tivemos
vereadores de Paulista como Manoel Passos, Severino Henrique, Antônio Ferreira,
papai, todos eram vereadores de Paulista eleitos pela votação de Abreu e Lima,
então sempre era um distrito que tinha representatividade na parte política.
De fato, as afirmativas do Sr. Mário Salviano
são corroboradas pelas atas das reuniões dos vereadores da cidade do Paulista.
O vereador Antônio Ferreira da Silva, por exemplo, já na primeira reunião do
ano dos vereadores em 5 de janeiro de 1982 fazia requerimentos à COMPESA para aumentar
a rede de encanação à rua Castro Alves, no bairro da Matinha, em Abreu e Lima.
Sendo apoiado pelo vereador Anízio Bezerra dos Santos, que declarou nunca ser
atendido nos requerimentos que fez à mesma em prol do mesmo bairro. E na mesma
reunião, o vereador Anízio ainda lamenta o péssimo estado das ruas deste
bairro.
Daí se entende a
mobilização contrária do prefeito de Paulista na época, Ademir Cunha[33]
, para a não emancipação da cidade. Contudo, graças a amizade do Sr. Mário
Salviano com Ivanildo Severino, um comprador de aves da sua granja, o Sr. Mário
teve contato com o deputado Nivaldo Rodrigues Machado[34] que comprou a ideia de transformar o distrito
de Abreu e Lima em cidade.
Em pouco tempo, estava
o deputado Nivaldo Machado na Granja do Sr. Mário Salviano, onde puderam
conversar sobre política e o mesmo buscava angariar apoio na região, em troca
desse apoio, o Sr. Mário Salviano pede que o deputado o ajude a realizar o
sonho do seu pai falecido em transformar o distrito em cidade. Assim se formam
as alianças políticas em volta do projeto de emancipação política.
Rapidamente, o grupo
político da futura cidade estava envolvido na mobilização pela sua emancipação.
E em pouco tempo, o mesmo grupo reunira-se com o governador Marco Maciel , que
segundo Salviano abraçou a ideia da emancipação pelo vínculo que tinha com
Pedro Salviano, pai de Mário Salviano. Com o governador do seu lado começa a
luta pela emancipação política da cidade, onde dividiu-se os grupos direitistas
e esquerdistas no distrito, segundo Salviano:
Daí vamos pra
luta, ai lá vem as partes da burocráticas, durante esse período ai vem aquela
história de fica ou não fica, vai ou não vai, dá tempo ou não dá, e também
havia a oposição aqui porque, naquela você sabia que tinha os direitistas e os
esquerdistas. Então como eu era do governo Marco Maciel[35],
então eu era direitista, eu estava... porque Marco Maciel tinha me garantido, e
aqui tinha aquele grupo de pessoas que eram da esquerda eram MDB autêntico, e
não aceitavam, não que não aceitavam a emancipação, mas que não aceitavam a
minha linha de atuação com Marco Maciel. E nisso criou-se um certo
distanciamento de muitas pessoas.
Assim se formavam os
grupos pró e contra a emancipação do distrito. O vereador Jerônimo Gadelha de Albuquerque
Neto[36],
embora pareça ter sido contrário à emancipação do distrito no início do
movimento, segundo relata seu adversário político Mário Salviano, Jerônimo
embarcou na ideia posteriormente prevendo as inúmeras oportunidades. Pois, no
dia 8 de janeiro de 1982, subiu à tribuna da Câmara Legislativa, Casa Torres
Galvão de Paulista para afirmar que
esteve com um deputado “de fora”, sem citar nomes, com o propóstio de
trazer para Abreu e Lima uma maternidade, um colégio de 5ª a 8ª séries e a
emancipação do distrito.
É difícil de
compreender como Jerônimo Gadelha tinha o apoio do governador Marco Maciel para
emancipar a cidade, se o mesmo fazia oposição ao seu governo na Câmara de
Paulista. Como se pode observar na Ata da sessão do dia 15 de janeiro de 1982
numa discussão com o vereador Antônio Alves de Oliveira, que era da bancada do
Prefeito acerca do abandono do prefeito e do governador em relação à área
educacional de Abreu e Lima:
[...]Na
realidade o sr. Governador veio à Paulista, depois de três anos de administação
e não tive a satisfação de presenciar nenhuma obra do seu governo em nosso
município, e depois de três anos de adminitração, ele vem à Paulista num ano
político e ainda assim, excluiu o distrito mais carente na educação que é o
distrito de Abreu e Lima. (Ata da sessão, 15 de janeiro de 1982, pág.3).
Embora a
pauta principal dos vereadores do Paulista no início de 82 fosse o aumento de
100 a 200% que o prefeito Ademir Cunha Prima queria dar para seus parentes na
Prefeitura, o distrito de Abreu e Lima é sempre mencionado, mais vezes
inclusive do que os outros distritos como Paratibe, por exemplo. O vereador
Anízio Bezerra dos Santos era um dos vereadores que mais se pronunciava em
favor de Abreu e Lima.
Enquanto a
Casa Torres Galvão discutia tais assuntos, a mobilização à favor da emancipação
crescia, contava com Manoel Salviano (Neco) que mobilizava a população nas
casas, Eufrásio Balbino que por trabalhar na SUCAN[37],
procurou delinear os limites da cidade, e desejavam que os limites se
estendessem até a praia de Maria Farinha. A mobilização contava desde a
assinatura de abaixo-assinados, a ida de ônibus lotados de moradores para as
reuniões na Assembleia Legislativa, a fim de pressionar os deputados nas
votações, até o plebiscito que decidiu a vontade da população local pela
emancipação.
As discussões
envolvendo a emancipação de Abreu e Lima ficaram acirradas à medida que chegava
o grande dia do plebiscito. No dia 30 de abril de 1982, sob a presidência dos
vereadores Geraldo de Almeida Sobral, a 4ª sessão extraordinária deu uma
amostra da polêmica demarcação dos limites de Abreu e Lima:
[...] o sr.
Presidente declarou facultada a palavra para tratar de qualquer assunto. Veio à
Tribuna da Casa, o vereador Paulino Luiz da Silva, que diz: Sr. Presidente,
srs. Vereadores, na sexta-feira próxima passada, tivemos nesta Casa os mais
acirrados debates em relação aos limites desifnados pela Assembleia Legislativa
com o apoio do governador do Estado, sr. Marco Maciel, que segundo o mapa, invadia
o município do Paulista, principalmente na área do distrito de Paratibe,
levando quase dois terços das indústrias, numa verdadeira sangria aos nossos
limites. Chegamos ao ponto de dizer que, isso nada mais era do que um assalto
às nossas indústrias. (Ata da sessão, 30 de abril 1982, pág. 3).
Os embates continuavam
entre os vereadores à favor do Prefeito e os à favor de Abreu e Lima, dos quais
Jerônimo Gadelha era um dos mais atuantes, sempre procurando mostrar que o
distrito foi desprezado pela gestão do Prefeito Ademir Cunha. Os ânimos estavam
bastante alterados às vésperas da emancipação. Outra reunião acalorada na
Câmara dos Vereadores em Paulista foi a do dia 23 de abril de 1982, quando os
vereadores Antônio Alves de Oliveira Neto e João Guilherme de Albuquerque que
acusavam o deputado Nivaldo Machado e o governador Marco Maciel de estarem
tentando “tomar” as maiores indústrias de Paulista com a demarcação dos limites
da cidade. Embora ambos deixassem claro que não estavam contra a emancipação da
cidade, mas contra “a mutilação” de um distrito, o de Paratibe. Afirmavam que
estavam dispostos a irem na justiça para impedir a demarcação. Segundo eles, os
representantes de Igarassu e São Lourenço da Mata que fizeram o mesmo em
protesto pelo mesmo motivo. No caso, Camaragibe e Itapissuma, estavam para se
emancipar de suas cidades.
Nesta mesma sessão, o
vereador Anízio Bezerra defendeu Abreu e Lima, e afirmou que o governador
estava certo. Foi então rebatido pelo vereador Antônio de Oliveira Neto, que diz:
V.Exa., é muito
inteligente e tem obrigação de defender, mas defenda de verdade, sem querer
arrancar de Paulista, o que Abreu e Lima nunca fez para conseguir. Seja
valente, como o vereador Jerônimo Gadelha, o sr. Mário Salviano e o sr. Teófilo
Ferreira, que com garra defendem os seus interesses. V.Exa., quer defender,
defenda com inteligência, mas sem tomar nada do povo. Que o que Paulista tem
hoje, conseguiu com muito suor. (Ata da Sessão, 23 de abril de 1982. Pág.3).
Este
raciocínio também obteve o apoio do vereador Paulino Luiz da Silva, que
complementou que “Abreu e Lima poderá se
emancipar, mas jamais crescer com assalto quase à mão armada à soberania dos
outros”. Mais uma vez o vereador Jerônimo Gadelha sobe à tribuna para defender
Abreu e Lima, elogiando o governador por estar cumprindo sua palavra e
ressaltando que ele estava encabeçando o movimento emancipatório. E por último,
afirmou que Abreu e Lima cooperou com seus sessenta mil habitantes para o
crescimento e progresso da cidade do Paulista. O vereador Paulino rebate
Jerônimo afirmando que não via “razão
para um filho que não tem condições de ser independente, sair da casa do pai,
continuo dizendo que Abreu e Lima viva, mas com os próprios recursos”.
O debate continuou
tendo como centro a questão de Abreu e Lima ficar com algumas indústrias que
pertenciam ao distrito de Paratibe. Abreu e Lima arrercadava cerca de cento e
trinta milhões de cruzeiros e seus sessenta mil habitantes contribuíram para o
crescimento econômico de Paulista, argumentava Jerônimo Gadelha, acrescentando
que não tinha ganância em ser prefeito de Abreu e Lima ou de qualquer lugar.
Mas, Gadelha se candidatou depois, e recebeu apoio do vereador Anízio Bezerra
dos Santos segundo consta na Ata do dia 7 de julho de 1982, pág. 3.
Na Ata de
Sessão Solene, em 5 de junho de 1982, convocada para entrega do título de
cidadão ao sr. Manoel Gonçalves da Silva, Ademir Cunha, agora candidato a
deputado declarou, provavelmente de olho nos votos dos abreuelimenses:
[...]quero
aproveitar esta oportunidade para dizer aos amigos de Abreu e Lima, que nunca
fui contra a sua emancipação, longe de mim tal pensamento, pois como prefeito
na época poderia ter impetrado um mandato de segurança e isso eu não fiz, pois
todos nós queremos bem à Abreu e Lima, é como se fosse uma filha, e qual o pai
que não quer bem a uma filha? (Ata da sessão solene, 5 de junho de 1982. Pág.
3)
Mas, a oposição não era
apenas local, liderada pelo prefeito Ademir Cunha Primo com suas páreas na
Câmara de Vereadores de Paulista, na ALEPE se travava um debate semelhante em
relação se Abreu e Lima, Camaragibe e Itapissuma atendia ao requisito de renda
pública previsto na Lei Complementar Nº1, que dispõe de condições para serem
transformados em municípios. Segundo a Lei o distrito deveria participar com
percentual igual ou superior a 0,5% da arrecadação estadual de impostos.
Segundo o deputado Nivaldo Machado, Abreu e Lima contribuiu com 278 milhões de
Cruzeiros, representando 0,75% do total estadual. Contudo, o secretário
Everaldo Maciel continuava a criticar a Lei e a emancipação dos distritos.
A oposição era grande
dentro da ALEPE como se vê na notícia seguinte:
Revoltado com a
atitude dos peemdebistas, o deputado Severino Otávio do PDS, ocupou a tribuna
para criticar tal medida afirmando que ‘é triste o que a oposição faz nesta
casa, [...]. Eles querem prejudicar os distritos de Abreu e Lima, Camaragibe,
Ponte dos Carvalhos e Itapissuma que esperam serem transformados em Municípios,
evitando que isto ocorrer antes de 15 de maio’[38].
Os jornais começavam a
noticiar como certa a emancipação de Abreu e Lima. Segundo o Jornal Diário da
Manhã, a Comissão de Constituição, Legislação e Justiça solicitou dois
documentos para instruir o processo de emancipação. Um dirigido ao
Desembargador Augusto Duque, Presidente do Tribunal Regional Eleitoral e o
outro ao Dr. Eliezer Menezes, Diretor Geral da Receita. Na mesma notícia o
ex-vereador de Paulista, Oscar Matias, “O Raça”, era o mais cotado para ser o
interventor que governaria a cidade com apoio do grupo político local até as
eleições de 1982. “O Raça” contava ainda com apoio do Deputado Nivaldo Machado.[39]
A presença dos
moradores de Abreu e Lima na Assembleia Legislativa surtiu efeito nas mídias
locais como se vê na notícia a seguir:
Dirigidos pelo
secretário do deputado Nivaldo Machado, Joaquim França, moradores do Distrito
de Abreu e Lima, que compareceram ontem, à sessão ordinária da Assembleia
Legislativa do Estado, vaiaram e gritaram slogans contra os parlamentares
peemedebistas, que tentavam, através de discurso esclarecer ao povo os motivos
que levaram a obstruir a pauta daquela Casa, que entre outras coisas, entrava
em discussão os Projetos de Emancipação dos Distritos de Abreu e Lima[...]. [40]
Com o apoio do deputado
Nivaldo Machado, tornado presidente da Assembleia Legislativa por uma emenda
pelo governador Marco Maciel, e do próprio governador, o grupo segue adiante na
sua luta e angaria o apoio do líder religioso de Abreu e Lima, pastor Isaac
Martins Rodrigues. Nivaldo já tinha sido vereador e prefeito de Olinda,
conhecia o pastor Isaac Martins, líder da Assembleia de Deus em Abreu e Lima
que já contava com um bom número de fiéis. O pastor Isaac Martins já possuía
uma visão independente e progressista, abraçou a idéia e mobilizou os fiéis da
Assembleia de Deus para apoiar a emancipação, segundo Salviano:
[...] tinha
pessoas ligadas ao pastor Isaac que participavam ativamente como capitão
Alfaite, o pai do prefeito atual Marcos José, era assíduo lá em casa fervoroso,
agente andava e ia no Palácio para cima e pra baixo, era o porta-voz do pastor
Isaac, tinha Zequinha, que era antigo também aqui que era o corneteiro de Abreu
e Lima né, da banda da escola, tinha também a família Flor, Zé Flor, participou
muito com a gente, tinha também, Salatiel Carvalho deu uma força, deu todo
apoio, porque ele era genro do pastor Isaac, aquela menina, Vilma, esposa do
Pastor Marcos José, participava muito.
Ainda segundo Salviano,
o pastor Isaac foi pessoalmente diversas vezes no Palácio Campo das Princesas
falar com o governador em prol do projeto. Mas, não era apenas Mário Salviano
que estava já de olho na prefeitura da futura cidade de Abreu e Lima, o
vereador Jerônimo Gadelha, que fazia oposição ao prefeito de Paulista há mais
de seis anos, também visava a futura prefeitura:
[...]Quero
adiantar que tenho considerações por todos os meus colegas, reconheço a fora
eleitoral que eles tem, e fui ao governador lutar pela emancipação de Abreu e
Lima; mas, antes disso, os meus amigos de Abreu e Lima se anteciparam e
lançaram minha candidatura à prefeitura de Abreu e Lima e eu aceitei. (Ata da
sessão, 30 de abril de 1982, pág. 5).
As reuniões pela
emancipação aconteciam no Clube do Vera Cruz, cedido pela Dona Luluzinha, que
segundo Salviano o local se transformou no quartel general da emancipação da
cidade. Os diretórios políticos dos distritos já se mobilizavam para lançar os
nomes para a futura prefeitura de Abreu e Lima, segundo o Jornal do Comércio, o
nome do ex-vereador Willibaldi França, conhecido como Babá, era o mais cotado
como candidato. Simultaneamente, o governador Marco Maciel já se preocupava em
nomear os interventores para assumir os distritos pelo prazo de seis meses até
o pleito do dia 15 de novembro, onde seriam eleitos os futuros prefeitos das
novas cidades.
As
discussões sobre quem seria o interventor em Abreu e Lima ficaram acirradas,
pois o prefeito de Paulista foi contra o nome do ex-prefeito Ubyratan de
Castro, que foi sondado para possivelmente ocupar este cargo. Assim, Ubyratan
fez um desabafo público no jornal Diário da Manhã desafiando o Sr. Cunha Primo:
“Quando
nasci, Paulista era distrito de Olinda, tornando-se cidade a partir de 1929.
Portanto, sou olindense e paulistense ao mesmo tempo. Agora, o Sr. Cunha, esse
sim é que um ‘estranho no ninho’, pois vai numa leva de matutos, num caminhão
“pau de arara” em uma das muitas vezes que os Lundgreens, aproveitando a fome
motivada pelas secas quando assolavam a Paraíba, mandava buscar esses
necessitados para povoarem suas fábricas.” Foi mais além: “Qual autoridade
possui o Sr. Cunha Primo para fazer restrições a esse ou aquele nome, indicado
à interventor no futuro município, quando ele próprio foi contrário à
emancipação do município de Abreu e Lima.”[41]
Os interesses estavam
em jogo. As eleições para governador, senador e deputados estavam próximas. As
articulações políticas se angajavam em torno dos nomes mais favoráveis para a
vitória. Em Abreu e Lima era necessário oficializar a vontade popular pelo
projeto de emancipação. Por isso, foi realizado um plebiscito realizado pelo
Tribunal Regional Eleitoral. Segundo o Jornal Diário da Manhã, o plebiscito
para definir oficialmente a opinião da população foi realizado pelo Superior
Tribunal Eleitoral simultaneamente em Ponte dos Carvalhos, Abreu e Lima,
Araçoiba e Camaragibe no dia 09 de maio de 1982. Lembra Salviano que fora um domingo chuvoso,
e mesmo assim num distrito com seis mil eleitores, quase quatro mil
compareceram e disseram “sim” à emancipação do distrito.
O distrito de Abreu e
Lima estava em euforia com a possibilidade de se tornar um município, era como
se fosse a “salvação da Pátria”. Os moradores estavam animados: “Vamos deixar
de ser interior e passar a ser cidade. A água já chegou, o transporte já
melhorou, só falta agora ter prefeito.” Dizia Dona Iracema Guimarães Lopes,
moradora de Caetés Velho ao Jornal do Comércio em entrevista publicada no dia
25 de abril de 1982. Na mesma reportagem o sr. Elias Sales, dono da Farmácia
União foi taxativo: “vou votar pelo ‘sim’ e farei campanha para que todos sejam
a favor da emancipação. Haverá muitas vantagens, inclusive melhor
aproveitamento dos recursos.” Politicamente não quis indicar o seu candidato a
prefeito, salientando que é do PDS e que “tanto Mário Salviano como Francisco
Barros e Jerônimo Gadelha são ótimos nomes à prefeitura da cidade”. Assim o
assunto principal em Abreu e Lima era o plebiscito, que trouxe esperança de
melhorias numa época de muitas dificuldades nas áreas de saúde, educação e
segurança.
O movimento contava com
o apoio da Assembleia de Deus, na figura do pastor Isaac Martins Rodrigues, dos
comerciantes, de membros da elite local e dos maiorais do governo e agora da
própria população, a luta pela emancipação foi bastante acirrada e com
pouquíssimo tempo. A oposição na ALEPE obstruía a pasta de votações porque não
aceitava a imposição do governador Marco Maciel em colocar Nivaldo Machado como
presidente da Câmara, impedindo assim a votação do projeto de emancipação.
Houve, todavia uma
possibilidade às vésperas do plebiscito de que ele fosse suspenso, segundo a
imprensa, “os prognósticos de observadores políticos nos vizinhos municípios”
estavam duvidosos de que ela realmente aconteceria. Para a imprensa, Abreu e
Lima que possuía 14.200 eleitores registrados não teve uma devida mobilização
para que os eleitores votassem “Sim” no plebiscito, além de não ter indústrias
suficientes para sobreviver. Pois, as indústrias locais ainda gozavam da
isenção de impostos. Eram oito candidatos a prefeito em Abreu e Lima. E, os
políticos de Paulista estavam certos de que os dois terços do eleitorado, em
média 8 mil não iriam votar voluntariamente. Para piorar a situação, o dia 9 de
abril era um domingo, dia das mães e o Prefeito de Paulista iria realizar a
maior festa do ano, a inauguração do Estádio de Futebol Ademir Cunha, para a
qual o povo já estava sendo convidado há dois meses.
Embora tudo concorresse
contra o plebiscito, o TRE realizou o plebiscito no dia 9 de abril, apurou os
votos no dia 10 e entregou o resultado à Assembleia Legislativa no dia 11 de
maio. A população de Abreu e Lima compareceu e votou pelo “Sim”, afirmando
oficialmente que estavam de acordo com a transformação do distrito em cidade.
Cerca de um mês depois,
representantes de Abreu e Lima foram para ALEPE para pressionar os deputados na
aprovação dos projetos. Os deputados peemdebistas que estavam contra a
emancipação experimentaram uma derrota determinada por quase duas mil pessoas
que lotavam as galerias da ALEPE nos dias 12 e 13 de maio de 1982. Os moradores
de Abreu e Lima, Camaragibe e Itapissuma compareceram e vaiaram o deputado Hugo
Martins e ostentavam cartazes com legendas: “Queremos a aprovação dos projetos”
e gritavam “Fora os comunistas” ou “abaixo os radicais”. O tumulto foi grande,
o PMDB afirmou que votaria à favor, mas o povo não se calava. Para os deputados
era impossível resistir à vontade do povo. A população de Abreu e Lima se fez
presente pressionando pessoalmente os deputados da oposição, que finalmente
votam e aprovam por unanimidade a pauta das emancipações.
Toda essa movimentação
final, do plebiscito em 9 de maio até a assinatura em 14 de maio, foi definido
os limites de Abreu e Lima, aprovando o projeto e o governador exercendo seu
último ato como governador, assinou a Lei em 14 de maio de 1982.
Segundo Salviano, a
emancipação de Abreu e Lima só foi possível com acordos políticos de deputados
da oposição que tinham interesse políticos em emancipar Itapissuma e
Camaragibe.
Para o deputado Sérgio
Longman, líder da bancada:
É uma conquista do povo, que sem dúvida nenhuma contou com o
apoio da oposição. Tanto assim que, dois dos Projetos são de autoria de
parlamentares peemedebistas. Embora entendamos que, nesse momento, é muito mais
uma jogada política do Governo, tentando beneficiar o Partido do Governo, mesmo
assim votamos favoravelmente, porque acreditamos que é um passo para a efetiva
libertação do povo.[42]
Porque
foi tão apertada e rápida a assinatura dessa Lei de emancipação? Explica
Salviano:
E isso em cima
da hora, porque estava tudo em cima da hora, e Marco Maciel ia ter que se
afastar do governo por que ele ia ser candidato a senador, Nivaldo Machado ia
ser o suplente dele, Roberto Magalhães que era o vice ia ser candidato a
governador, Gustavo Krausen ia ser o vice-governador quem ia assumir o governo
ia ser Zé Ramos, que era o presidente atual da Assembleia, entendeu? Aí, com
esse corre-corre danado, Sérgio Ramos que era um dos defensores da esquerda, eu
lembro muito bem, deu um discurso falando contra a emancipação falando que era
uma coisa absurda que o governo queria fazer, porque queria fazer redutos
eleitoreiros, essa história toda [..].
Apesar da oposição do
então prefeito de Paulista, Ademir Cunha, de um grupo de vereadores e políticos
do distrito, do PMDB e de outros na ALEPE[43],
Abreu e Lima se torna cidade em 15 de maio de 1982, que é quando a Lei é
publicada no Diário Oficial, mas, devido à festança promovida pelos novos
munícipes em comemoração à emancipação, o dia 14 ficou oficializado na mente e
no coração dos abreuelimenses, de forma que na bandeira oficial consta 14 de
maio de 1982.
No mesmo ano, no dia 15
de novembro de 1982, ocorre as eleições municipais, onde Jerônimo Gadelha de
Albuquerque Neto, vereador em Paulista, ganha as eleições municipais. Todavoa,
há na cidade a história popular de que houve fraude nas eleições, versão
corroborada pelo seu principal concorrente na época, Mário Salviano.
Com o município
formado, e em 1983 com prefeito e vereadores eleitos, a cidade passa por
mudanças drásticas, como o fechamento dos cabarés que levavam a má fama da
cidade afora. Nesses cabarés havia manifestações culturais com apresentações de
tocadores de violas, sanfoneiros, e músicos de qualidade. Mas, alguns acolhiam
mesmo maus elementos que encontravam abrigo. Os cabarés de Abreu e Lima eram
lugares perigosos, é o que registra os históricos de homicídios dentro dos
cabarés. Como no caso do jovem Valmir Gomes dos Santos, que tinha 18 anos
quando foi assassinado com três tiros de revólver no Cabaré do Pacheco, no
bairro de Caetés, em Abreu e Lima no dia 11 de março de 1981. Segundo o jornal,
o comentário era que o próprio dono do bordel havia praticado o crime. Mas, a
polícia, por algum motivo não havia resolvido o caso. E este já era o terceiro caso no mesmo bordel
sem que a polícia resolvesse o caso ou sequer prendesse o proprietário.[44]
As notícias de
violência na localidade vão evoluindo de “facadas” a tiros de “revólver” que se
torna cada vez mais comum nas páginas policiais dos jornais. Reginaldo Silva afirma
que os cabarés tinham vários nomes, alguns levavam nomes de novelas da época,
como “Bem Amado”, e outros mais conhecidos eram:
Biu Nova, Biu
Reboque, Mocinha, Dolores, Índia, Barbosa, Maria Gomes, e o Alto do Alberto
Brito, Alto do Alberto Brito de um lado e de outro era, era o dono do terreno
lá, e tinha o nome de novela: Bem Amado, tinha o Espigão, o Bem Amado tinha
muita prostituição, tinha tráfico de drogas, bandido, assaltantes, ladrão, ...
Ainda segundo o
vereador da época, Reginaldo Silva, a iniciativa da Câmara Municipal de fechar
os cabarés de Abreu e Lima foi de autoria do vereador Severino Farias, que
juntamente com outros vereadores enviou o requerimento ao prefeito. O mesmo
enviou ofícios para os 142 prostíbulos que haviam na cidade e propôs ajuda da
prefeitura para que os interessados em mudar de ramo pudessem começar um novo
negócio, como farmácias e armazéns de construção. Cerca de vinte prostitutas que eram
residentes em Abreu e Lima foram empregadas na prefeitura como merendeiras,
garis, zeladoras. Embora 90% delas fossem de outras cidades, conforme
explicamos outrora.
O fechamento dos
prostíbulos não foi algo tão simples e nem pacífico. Houve resistências, como
foi o caso de um localizado no bairro da Matinha. O caráter autoritário digno
dos coronéis da Velha República dado à Jerônimo Gadelha deve-se ao fato da sua
aproximação com o deputado Osvaldo Rabelo, que controlava a Polícia Civil no
estado de Pernambuco, no início da década de 80[45]. Essa aproximação com o controlador da Polícia
Civil deu à Jerônimo ousadia para agir com autoridade policial e sem mandado
judicial para fechar os cabarés que ainda resistiam, como aconteceu no sr. José
Rodrigues da Silva, na Matinha, que foi fechado à força pelo próprio prefeito.
Assim
se fecharam os prostíbulos de Abreu e Lima, e cresceram e se multiplicaram as
igrejas. O prefeito adotou políticas de contato direto com a população, e
nessas reuniões comunitárias, as igrejas e pastores que solicitavam ajudas em
materiais de construção recebiam de bom grado do prefeito. Assim, muitas
igrejas de diversas denominações receberam ajuda para serem construídas. A
década de 1980 foi uma época de grandes mudanças para o distrito de Abreu e
Lima, desde a sua transformação em cidade, até uma revolução moral com os
fechamentos dos cabarés e abertura de muitas igrejas. Como afirma Max Weber, em
seu livro, “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, que a religião
pode ser tomada como um sistema de valores que pode justificar e exprimir
determinadas práticas sociais e econômicas e até mesmo possibilitar mudanças
estruturais na sociedade. [46]
Abreu e Lima é um exemplo prático dessa tese de Weber de como a religião pode
influenciar uma sociedade. Em 2017 a cidade tem um pastor da Assembleia de Deus,
Marcos José, como prefeito eleito democraticamente.
CONCLUSÃO
A
cidade atualmente ocupa uma área territorial de 126,193 km², com uma população
estimada de 99.364 pessoas em 2017, e é a 13º cidade mais populosa do Estado de
Pernambuco, segundo dados do IBGE. Em 2014, tinha um PIB per capita de R$
13565.09. Na comparação com os demais municípios do Estado, sua posição era de
20 de 185.[47]
Segundo o FIDEM, em 2016, a cidade tinha 79.789 eleitores e 11 vereadores.[48] O
setor de serviços, do qual o comércio está incluído, contribui com 74,86% [49]da
renda do PIB na economia do município confirmando que desde a barraca de Dona
Maria, “a Maricota” até os dias atuais o lugarejo se destaca pelo comércio à
beira de uma das mais importantes rodovias do Brasil.
Escrever
pela primeira vez a história da emancipação de uma cidade é uma tarefa que
exige um trabalho e esforço surpreendente, sobretudo na busca das fontes
disponíveis para a construção de uma narrativa histórica. Para este artigo foi
preciso muitos cortes, devido à quantidade de informações colhidas. Contudo, é
possível identificar os papéis preponderantes dos nomes políticos que
contribuíram para o nascimento da cidade de Abreu e Lima. Bem como seu processo
político e interesses envolvidos. Apresenta-se, portanto, um trabalho inédito
da narrativa histórica do surgimento de uma das cidades mais importantes do
Estado de Pernambuco.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ABREU
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2008.
ALENCAR,
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edição, Arte Editorial, São Paulo, 2010.
ANDRADE,
Manuel Correia de. Economia pernambucana do século XVI. Recife, Ed.
Universitária da UFPE, 2003.
ARAÚJO,
Isael, Dicionário do Movimento Pentecostal, CPAD, 1ª edição, Rio de Janeiro,
2007.
GAMA,
Luiz. MAZIN, Angelo Diogo. Expressão Popular, 1ª Ed. São Paulo. 2006.
KOSTER,
Henry. Viagens ao Nordeste do Brasil. Tradução de Luís Câmara Cascudo. 2ª Ed.
Secretaria de Educação e Cultura do Governo do Estado de Pernambuco. Recife,
1978.
PEREIRA
DA COSTA, Francisco Augusto. Anais Pernambucanos. 2ª edição. Recife: Fundarpe,
1983.
WEBER,
Max (2004). A ética protestante e o “espírito” do capitalismo (São Paulo:
Companhia das Letras (Tradução de José Marcos Mariani de Macedo).
[1] Um
resumo historiográfico sobre os primórdios da ocupação da localidade que hoje
se compreende a cidade de Abreu e Lima/PE
até sua emancipação política.
[2] Bacharel e Licenciatura em
Teologia pela FETEV/PR.
Licenciatura em História pela UFPE. Graduando em Bacharelado em História pela
UFPE.
[3]
http://blogs.diariodepernambuco.com.br/historiape/index.php/2016/03/14/duarte-coelho/.
Acessado dia 23 de novembro de 2017.
[4] ANDRADE, Manuel Correia de.
Economia pernambucana do século XVI. Recife, Ed. Universitária da UFPE, 2003.
Pág. 29.
[5] O historiador Francisco
Augusto Pereira da Costa defende a tese de que a emancipação foi concedida em
recompensa por Alagoas não ter aderido ao movimento republicano, a Insurreição
pernambucana de 1817, mantendo-se fiel à Portugal.
[6] ANDRADE, Obra citada. Pág.34.
[7] ANDRADE, Obra citada. Pág.39 e
47.
[8] PEREIRA DA COSTA, Francisco
Augusto. Anais Pernambucanos. 2ª edição. Recife: Fundarpe, 1983. Vol. 1. Pág.
208. A monumental obra de Pereira da Costa reúne informação histórica sobre
Pernambuco ao longo de quatro séculos e foi dividida em vários volumes. A obra
consultada está disponível no Arquivo Público da cidade de Olinda.
[9] ABREU E LIMA, Assembleia de
Deus em. Síntese Histórica – 90 Anos. Flamar, Recife, 2008. Pag. 31.
[10] PERNAMBUCO. Agência Estadual
de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco (Condempe Fidem). Município Abreu e
Lima. Recife, 2015. Disponível em:
http://www.condepefidem.pe.gov.br/c/document_library/get_file?p_l_id=18393234&folderId=18394117&name=DLFE-89503.pdf.
Acesso em: mar. 2015.
[11] PEREIRA, Francisco Augusto.
Op. Cit. Pág. 404.
[12] KOSTER, Henry. Viagens ao
Nordeste do Brasil. Tradução de Luís Câmara Cascudo. 2ª Ed. Secretaria de
Educação e Cultura do Governo do Estado de Pernambuco. Recife, 1978.
[13] KOSTER. Obra citada. Pág. 211.
[14] RECIFE, Jornal do. Recife, 28
jun.1928. Matou com uma facada ao amigo de outros tempos. p. 7.
[15] Diário da Manhã, 26 de
setembro de 1934, Pág. 4.
[16] ABREU E LIMA, op. Cit. Pag.
32.
[17] Herman Theodor Lundgren
chegou ao Brasil em 1855, com 20 anos de idade. Em 1904, já naturalizado
brasileiro, casado com Ana Elizabeth, pai de cinco filhos, comprou a
propriedade dos Rodrigues Lima, que por sua vez havia sido dos Padilha e Cia
Ltda. Após sua morte, em 1907, os seus filhos e sucessores, Alberto, Frederico
e Arthur Lundgren assumiram a indústria que se transformaram em fonte de
progresso e riquezas. ALCÂNTARA, Laurita Maria de. História de Paulista. Pág.
16. Centro de Educação-UFPE, junho de 2002.
[18] O próprio missionário relatou
este acontecimento no periódico da Assembleia de Deus em Recife – Voz
Pentecostal, em fevereiro de 1933.
[19] Segundo Araújo (2007), Torres
Galvão era um político considerado progressista, com fortes preocupações
sociais e, como líder que era, organizou o Sindicato de Fiação e Tecelagem em
Paulista - PE. Enfrentou a poderosa família Lundgren proprietária das Casas
Pernambucanas, defendendo interesses dos funcionários pertencentes a essas
empresas. Ele se tornou deputado estadual em 1946, presidiu a Câmara e assumiu
o governo de Pernambuco por 110 dias após a morte do governador Agamenon
Magalhães.
[20] http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cidades/noticia/2012/06/30/pernambuco-e-o-estado-com-a-maior-concentracao-de-evangelicos-do-nordeste-47456.php
(Acessado dia 15.07.16).
[21] Arquivo do IBGE. Conf.
https://archive.is/Gg8QA.
[22] GAMA, Luiz. MAZIN, Angelo
Diogo. Expressão Popular, 1ª Ed. São Paulo. 2006.
[23] Diário da Manhã, “A toponímia
do Estado”, 28 de maio de 1939. Pág. 14.
[24] Diário da Manhã, “Fatos do
Dia”, 29 de março de 1942. Pág. 5.
[25] Diário da Manhã, “Vida
Administrativa”, 5 de fevereiro de 1942. Pág. 4.
[26] Diário da Manhã, “O
Aniversário do Presidente Vargas Festividades que se realizarão neste Estado em
homenagem à Data”, 17 de abril de 1942. Capa.
[27]
https://seuhistory.com/hoje-na-historia/morre-cantora-elis-regina. Acessado dia
19/06/2017.
[28] Antonio Baracho da Silva, O
Mestre Baracho da Ciranda, cujo nome era Antônio Baracho da Silva, nasceu em
Nazaré da Mata, em Pernambuco. Ainda muito pequeno, mudou-se para Abreu e Lima,
onde passou a maior parte da vida. Foi um grande compositor de cirandas, e foi
também Mestre de Maracatu. Como nunca se preocupou com os registros legais da
autoria, várias de suas composições foram gravadas por outros artistas, sem
menção à sua autoria. Ele faleceu em 1988, aos 81 anos, de câncer na garganta,
em decorrência de anos fumando. Esse é um dos poucos registros de sua ciranda.
Ele tem a famosa Lia de Itamaracá, mas tem outras belas canções, como Minha
Melodia.
[29] SALVIANO, Mário Marques.
Professor de Geografia pela FUNESO. Político militante pela emancipação da
cidade de Abreu e Lima. Entrevista concedida em 05 de junho de 2017.
[30] PEREIRA, Reginaldo da Silva.
Contabilista, ex-vereador de Abreu e Lima, e atual assessor de cultura da
Prefeitura da Cidade de Abreu e Lima. Entrevista concedida em 05 de junho de
2017.
[31] Sargento da Polícia Militar,
vindo da Paraíba e principal organizador da Banda de música da Assembleia de
Deus.
[32] Inaldo Cavalcante de
Albuquerque. Saxofonista, nascido em Igarassu, cresceu e teve sua juventude em
Abreu Lima e indo para Recife aos 16 anos, ele é apontado por especialistas
como o mais novo embaixador do frevo.
[33] Ademir Cunha. Deputado
federal por PE 1997-1998, 1999. Ademir Barbosa da Cunha nasceu em Paulista (PE)
no dia 23 de julho de 1942, filho de Severino Cunha Primo e de Maria Barbosa da
Cunha. Foi prefeito de Paulista, deputado estadual e federal.
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/ademir-barbosa-da-cunha.
Acesso dia 19/06/2017.
[34] Nivaldo Rodrigues Machado
nasceu em Olinda (PE) no dia 21 de janeiro de 1921, filho de Antônio Rodrigues
Machado e de Jesuína Rodrigues Machado. Foi vereador duas vezes em Olinda,
prefeito na mesma cidade, deputado estadual e Senador por Pernambuco. Faleceu
em Olinda, 27 de janeiro de 2006.
[35] Marco Maciel (1940) é um
advogado, professor e político brasileiro. Exerceu diversos cargos políticos,
entre eles, o de Governador de Pernambuco e o de Vice-Presidente da República,
na gestão de Fernando Henrique Cardoso. É titular da cadeira nº 22 da Academia
Pernambucana de Letras. É membro da Academia Brasileira de Letras.
[36] Jerônimo Gadelha De
Albuquerque Neto. Nasceu no dia 03/07/1946, foi prefeito da cidade de Abreu e
Lima por vários mandatos, e recentemente teve sua candidatura barrada no TSE
pela Lei da Ficha Limpa.
[37] Da Sucam, órgão que resultou
da fusão do Departamento Nacional de Endemias Rurais (DENERu), da Campanha de
Erradicação da Malária (CEM) e da Campanha de Erradicação da Varíola (CEV), a
Fundação herdou experiência e conhecimento acumulados, ao longo de várias
décadas, de atividades de combate às endemias de transmissão vetorial, que
transformaram a Sucam no órgão de maior penetração rural no país. Sua estrutura
operacional estava presente em todos os Estados brasileiros. Fonte:
http://www.funasa.gov.br/site/museu-da-funasa/sucam/ (Acessado dia 14 de junho
2017).
[38] DIÁRIO DA MANHÃ. Pinga Fogo.
Recife, sexta-feira, dia 07 de maio de 1982, pág. 4.
[39] Diário da Manhã, “Pingos”, 14
e 15 de junho de 1981. Pág. 6.
[40] DIARIO DA MANHÃ. Pinga Fogo.
Recife, quinta-feira, dia 13 de maio de 1982, pág. 4.
[41] Diário da Manhã, “Pingos”, 21
e 22 de junho de 1981. Pág. 6.
[42] DIÁRIO DA MANHÃ. Pinga Fogo.
Recife, sexta-feira, dia 14 de maio de 1982, pág. 4.
[43] Assembleia Legislativa do
Estado de Pernambuco.
[44] Diário da Manhã, “Notícias
Policiais”, 12 de março de 1981. Pág. 11.
[45] Segundo Zaverucha, Osvaldo
Rabelo (PFL) foi inspetor da área de conflitos no Estado de Pernambuco em 1982,
ex-deputado, controlava politicamente a Polícia Civil do Estado, conseguiu sete
mandatos e suplência de cargos na Assembleia Legislativa de Pernambuco no
período estudado. ZAVERUCHA, Jorge.
Policia Civil de Pernambuco: O Desafio da Reforma. Editora da UFPE, Recife,
2003. Pág. 62.
[46] WEBER, Max
(2004). A ética protestante e o “espírito” do capitalismo (São Paulo: Companhia
das Letras (Tradução de José Marcos Mariani de Macedo).
[47]
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pe/abreu-e-lima. Acessado dia 27 de novembro
de 2017.
[48]
http://www.bde.pe.gov.br/ArquivosPerfilMunicipal/Abreu%20e%20Lima.pdf.pdf.
Acessado dia 27 de novembro de 2017.
[49] Ibidem.