A HISTÓRIA DA CIDADE DE ABREU E LIMA
Ruínas da Igreja de São Bento |
O povoamento da região onde hoje compreende o município de Abreu e Lima
começou a ser povoada com o surgimento de engenhos de açúcar através de doações
de terras na capitania governada por Duarte Coelho. Donatário da capitania de
Pernambuco, dividiu a capitania em
sesmarias no ano de 1535. Em 1548, o almoxarife-mor de Pernambuco, Vasco
Fernandes, fundou o Engenho Jaguaribe, dando início ao povoado que deu origem
ao município.
A primeira dessas doações coube a Vasco Fernandes de Lucena e
família, em documento firmado pelo próprio donatário, em 24 de julho de 1540.
Essa data marca o início da povoação da sesmaria de Jaguaribe onde, em 1548,
Vasco Fernandes, almoxarife-mor de Pernambuco, fundou o Engenho Jaguaribe, que
deu origem ao atual município de Abreu e Lima. Jaguaribe é um nome de origem
indígena: yaguár-y-pe que significa “rio da onça” ou “rio do jaguar”. Nas lutas
contra os caetés, iniciadas em 1553, os engenhos de Igarassu e Jaguaribe foram
grandemente danificados.[1]
A atual cidade de Abreu e Lima chamava anteriormente “Maricota”. Pois,
todo o aglomerado humano que se estabeleceu na região se deve à estrada pública
que liga a “a Vila de Cosmos” com a de Olinda. Hoje, transformada em BR
cortando o centro da cidade e constitui a principal rodovia da cidade. A
demarcação judicial das terras de Jaguaribe só ocorreu em 12 de junho de 1573,
33 anos após a doação da sesmaria, por requerimento de D. Beatriz Dias (viúva
de Vasco Fernandes de Lucena) e seus filhos ao ouvidor geral do Brasil,
desembargador Antônio Salema. O nome “Maricota” aparece pela primeira vez em um
documento de 16 de fevereiro de 1784, encontrado nos arquivos de uma igreja
católica em Igarassu, referindo-se ao batismo de Francisco Nunes de Oliveira,
“residente em Maricota”. A tradição oral diz que este nome é oriundo de uma
comerciante chamada Maria que possuía seu comércio no trecho da “estrada dos
tropeiros”, entre as vilas de Igarassu e Olinda, onde hoje é o cruzamento da BR
101 e a Av. Capitão José Primo. [2]
Por volta de 1591 os beneditinos adquiriram as terras de Manoel Gondinho,
encravadas na área do Jaguaribe.[3]
As terras do Engenho Jaguaribe foram empossadas em 07 de janeiro de 1660,
pela ordem religiosa de São Bento. O frei Bento da Purificação tomou posse, em
Jaguaribe, das terras prometidas por uma senhora chamada D. Inês de Oliveira em
testamento lavrado em 29 de outubro de 1647, no qual dizia: “... deixo aos
reverendos padres de São Bento, para que por minha alma digam a valia dela em
missas...”[4].
Nessa propriedade, entre a estrada Velha e a Praia de Maria Farina, os
beneditinos construíram a capela de São Bento, atualmente em ruínas,
tornando-se o mais importante ponto turístico da cidade. [5]A
partir da chegada dos beneditinos à região, as terras adjacentes ao engenho
passaram para os domínios dessa ordem religiosa. Por volta de 1674 o Engenho
Jaguaribe encontrava-se em ruínas, conforme consta no testamento de João
Fernandes Vieira[6]:
“comprara ditas terras, mas – sem fábrica alguma, estando tudo por terra, - e
só restando do engenho que ali havia alguma ferragem”.
Nos anos seguintes, a povoação surgida nessas terras, a meio caminho
entre o Recife e Igarassu, tornou-se um local acolhedor para os viajantes,
principalmente homens de negócios que ali paravam para refeições ou pernoite. A
parte central desse povoado ganhou a denominação de Maricota, que se supõe vir
do início do século XVIII. O documento mais
antigo até agora encontrado que faz alusão ao nome Maricota é de 16 de
fevereiro de 1784, guardado nos arquivos da igreja dos santos Cosme e Damião de
Igarassu, que se refere ao batismo de um tal Francisco Nunes de Oliveira,
realizado na capela de São Miguel do Engenho Inhamã, citando seus pais como
sendo residentes em Maricota, então povoado de Igarassu.[7]
Só por volta de 1800 é que novamente se tem notícia de vida produtiva no
Engenho Jaguaribe. Em abril de 1812 foi o mesmo arrendado pelo cronista Henry
Koster que era português e filho de pais ingleses. Koster residiu no Engenho durante
1 ano e 8 meses. Assim ele relata:
Em princípios de abril de 1812 tomamos posse de um engenho em
Jaguaribe, distante 4 léguas do Recife, na direção do norte, e uma légua do
mar. Estava provido por muitos escravos, bois, maquinários, acessórios.[8]
Segundo Koster, Jaguaribe possuía uma bela vista de onde dava para se ver
os manguezais, plantações de mandioca e de milho. A capela de São Bento
funcionava com atividades religiosas regulares, apesar de inacabada e com
morcegos como moradores, ouviam-se de longe o toque freqüente do sino.
As terras ao meu redor para o Norte, pertenciam aos Frades
Beneditinos; E ao Oriente a uma velha senhora; Aqueles do último eram muito negligenciado,
mas aqueles que possuíam o primeiro estavam em alta ordem. Para o Sul, além da
madeira através da qual passei chegando a Jaguaribe, são as terras dos
paulistas; E para o oeste e o Noroeste são algumas terras de cana excelentes,
pertencem a uma irmandade religiosa de negros livres de Olinda.[9]
Durante o movimento conhecido como Confederação do Equador, Frei Joaquim
do Amor Divino Caneca escondeu-se nas matas do Engenho Utinga, nos dias 16 e 17
de setembro de 1824, tentando escapar de seus perseguidores. Encontrado três
meses mais tarde no Ceará, foi levado Recife, onde foi arcabuzado no Forte das
Cinco Pontas, a 13 de janeiro de 1825[10].
No dia 10 de novembro de 1848 travou-se em Maricota a primeira batalha da
Revolução Praieira, deflagrada três dias antes, na cidade de Olinda, entre os
revoltosos praieiros e as forças do legalistas
do governo. No dia 1º de janeiro de 1849 foi lançado, no Engenho Inhamã, o
“Manifesto ao Mundo”, com os postulados da Revolução Praieira. [11]
No dia 04 de dezembro de 1859 quando o imperador D. Pedro II, visitando e
vistoriando obras em Pernambuco, passou em Maricota com sua comitiva real,
registrando o fato no seu “Diário de Viagem”, no qual menciona também a estrada
dos tropeiros, das boiadas do norte que ele denomina de “estrada do contrato”,
provavelmente por envolver verba real nas suas obras. [12]
Nas terras de Maricota pode-se perceber a existência dos Engenhos Inhamã,
Utinga, Timbó e Jaguaribe. O distrito policial de Maricota foi criado no dia 22
de julho de 1863 pelo presidente da província, João Silveira de Souza, que
nomeou como subdelegado Antônio Borges Galvão Uchoa. No dia 28 de agosto de 1883
foi lavrada escritura de concessão para a construção de uma estrada de ferro,
partindo do Engenho Timbó até o Jaguaribe. A autorização fora solicitada pelo
proprietário do Timbó, Francisco Theófilo da Rocha Bezerra, aos proprietários
do Jaguaribe, Rosa Francelina de Queiroz Dourado Cavalcanti e José Cavalcante
de Albuquerque Gadelha e sua esposa, Francisca Bandeira de Fraga Gadelha, para
que os trilhos pudessem passar por suas terras. [13]
Contudo, a mesma nunca foi construída.
Em 1885 José Dias Feijó e sua esposa, Henriqueta Francisca Pereira,
separaram parte da propriedade em que moravam para que se levantasse uma capela
dedicada a São José e um cemitério, sendo este santo adotado como padroeiro da
cidade até hoje[14]. O
pároco de Igarassu, Floriano de Queiroz Coutinho iniciou com a comunidade a
construção da capela.
Parte da região que compreende a cidade de Abreu e Lima que veio
pertencer ao município do Paulista foi adquirida por Manoel Álvares de Morais
Navarro. Navarro, por ser natural de São Paulo era conhecido como “O Paulista”,
e veio acompanhar o bandeirante Domingo Velho para a guerra da conquista dos
Palmares, em 1869[15]. Adquirindo as terras mudou o nome para
“Engenho do Paulista”, e o local ficou conhecido como terras do Paulista,
vinculado à cidade de Olinda até setembro de 1935, quando por através de um
plebiscito veio a se emancipar. Elevado à categoria de município
definitivamente com a denominação de Paulista, pela Lei Estadual n° 11, de 04
de setembro de 1935, desmembrado de Olinda, com sede no antigo distrito de
Paulista. Foi instalado no dia 12 do mesmo mês e ano.[16]
Em 1948 pela Lei Estadual n° 421, de
31 de dezembro de 1948, o distrito de Maricota recebeu o topônimo de Abreu e
Lima em homenagem a José Inácio de Abreu e Lima (1794-1869). Ele era filho do
Padre Roma, que participou da Revolução Pernambucana e foi executado na frente
dos próprios filhos. Foi político, escritor, jornalista e general, o
"Inácio pernambucano", que lutou quatorze anos ao lado de Simón
Bolívar, um dos heróis da independência da Venezuela, chamado de “O general das
Massas”. Sepultado no cemitério dos ingleses.
O distrito foi criado pelo Decreto-lei Estadual n° 235, de 9 de dezembro
de 1938, pertencendo ao município de Paulista, a povoação foi oficializada com
o nome de Maricota. A Lei Estadual n° 4.993, de 20 de dezembro de 1963, elevou
o distrito à categoria de município, o qual foi extinto em 27 de agosto de 1964
pelo Acórdão do Tribunal de Justiça, mandado de segurança n° 56.889. Em 14 de
maio de 1982 a Lei Estadual n° 8.950 elevou novamente Abreu e Lima à categoria
de município, desmembrado de Paulista, com sede no antigo distrito, tendo sido
instalado em 31 de março de 1983.
O município foi emancipado em 1982, através do voto popular em plebiscito
realizado ao dia 9 de maio daquele ano, após quatrocentos anos sob o domínio
político e administrativo de Igarassu, e outros 47 subordinados à cidade de
Paulista, o que se tornou realidade no dia 14 de maio de 1982 após assinatura
do decreto que também emancipava os distritos de Itapissuma e Camaragibe.
Abreu e Lima é o município brasileiro com maior percentual de habitantes
evangélicos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE): 35% dos 97 mil habitantes são praticantes dessa religião.O número
expressivo motivou a criação da Lei Municipal 632, em 2008, que fixa 31 de
outubro como feriado, o Dia da Consciência Evangélica.[17]
Organizado por Flávio Alves
Historiador (UFPE)
Favor citar a fonte.
[1] PERNAMBUCO.
Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco (Condempe Fidem).
Município Abreu e Lima. Recife, 2015. Disponível em:
ttp://www.condepefidem.pe.gov.br/c/document_library/get_file?p_l_id=18393234&folderId=18394117&name=DLFE-89503.pdf.
Acesso em: mar. 2015.
[2] ABREU E
LIMA, Assembleia de Deus em. Síntese Histórica – 90 Anos. Flamar, Recife, 2008.
Pag. 31.
[3] PERNAMBUCO.
Loc. Cit.
[4] PERNAMBUCO.
Loc. Cit.
[5] http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cidades/geral/noticia/2015/10/07/arqueologos-da-ufpe-localizam-ruinas-de-engenho-do-seculo-16-em-abreu-e-lima-202474.php.
Acessado dia 03/06/2017.
[6] Que foi
casado com uma descendente de Jerônimo de Albuquerque, possuidor de diversos
engenhos, inclusive o de Inhamam. O mesmo participou da Restauração
Pernambucana. Conf.: GASPAR, Lúcia. João Fernandes Vieira. Pesquisa Escolar
Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em:
<http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acessado em: 03/06/2017.
[7]
ASSEMBLEIA, Op. Cit. Pag. 31.
[8] PERNAMBUCO.
Loc. Cit.
[9] KOSTER, Henry. Travels in
Brazil, 1816. Pag. 211.
[10] PERNAMBUCO.
Loc. Cit.
[11] PERNAMBUCO.
Loc. Cit.
[12] Idem.
[13] Idem.
[14] http://www.abreuelimaemdestaque.com.br/2015/03/festa-de-sao-jose-padroeiro-da-cidade.html.
Acesso em: 03/06/2017.
[15]
ASSEMBLEIA, Op. Cit. Pag. 31.