sábado, 3 de junho de 2017

HISTÓRIA DA CIDADE DE ABREU E LIMA

A HISTÓRIA DA CIDADE DE ABREU E LIMA

Ruínas da Igreja de São Bento
O povoamento da região onde hoje compreende o município de Abreu e Lima começou a ser povoada com o surgimento de engenhos de açúcar através de doações de terras na capitania governada por Duarte Coelho. Donatário da capitania de Pernambuco,  dividiu a capitania em sesmarias no ano de 1535. Em 1548, o almoxarife-mor de Pernambuco, Vasco Fernandes, fundou o Engenho Jaguaribe, dando início ao povoado que deu origem ao município.

A primeira dessas doações coube a Vasco Fernandes de Lucena e família, em documento firmado pelo próprio donatário, em 24 de julho de 1540. Essa data marca o início da povoação da sesmaria de Jaguaribe onde, em 1548, Vasco Fernandes, almoxarife-mor de Pernambuco, fundou o Engenho Jaguaribe, que deu origem ao atual município de Abreu e Lima. Jaguaribe é um nome de origem indígena: yaguár-y-pe que significa “rio da onça” ou “rio do jaguar”. Nas lutas contra os caetés, iniciadas em 1553, os engenhos de Igarassu e Jaguaribe foram grandemente danificados.[1]

A atual cidade de Abreu e Lima chamava anteriormente “Maricota”. Pois, todo o aglomerado humano que se estabeleceu na região se deve à estrada pública que liga a “a Vila de Cosmos” com a de Olinda. Hoje, transformada em BR cortando o centro da cidade e constitui a principal rodovia da cidade. A demarcação judicial das terras de Jaguaribe só ocorreu em 12 de junho de 1573, 33 anos após a doação da sesmaria, por requerimento de D. Beatriz Dias (viúva de Vasco Fernandes de Lucena) e seus filhos ao ouvidor geral do Brasil, desembargador Antônio Salema. O nome “Maricota” aparece pela primeira vez em um documento de 16 de fevereiro de 1784, encontrado nos arquivos de uma igreja católica em Igarassu, referindo-se ao batismo de Francisco Nunes de Oliveira, “residente em Maricota”. A tradição oral diz que este nome é oriundo de uma comerciante chamada Maria que possuía seu comércio no trecho da “estrada dos tropeiros”, entre as vilas de Igarassu e Olinda, onde hoje é o cruzamento da BR 101 e a Av. Capitão José Primo. [2] Por volta de 1591 os beneditinos adquiriram as terras de Manoel Gondinho, encravadas na área do Jaguaribe.[3]

As terras do Engenho Jaguaribe foram empossadas em 07 de janeiro de 1660, pela ordem religiosa de São Bento. O frei Bento da Purificação tomou posse, em Jaguaribe, das terras prometidas por uma senhora chamada D. Inês de Oliveira em testamento lavrado em 29 de outubro de 1647, no qual dizia: “... deixo aos reverendos padres de São Bento, para que por minha alma digam a valia dela em missas...”[4].

Nessa propriedade, entre a estrada Velha e a Praia de Maria Farina, os beneditinos construíram a capela de São Bento, atualmente em ruínas, tornando-se o mais importante ponto turístico da cidade. [5]A partir da chegada dos beneditinos à região, as terras adjacentes ao engenho passaram para os domínios dessa ordem religiosa. Por volta de 1674 o Engenho Jaguaribe encontrava-se em ruínas, conforme consta no testamento de João Fernandes Vieira[6]: “comprara ditas terras, mas – sem fábrica alguma, estando tudo por terra, - e só restando do engenho que ali havia alguma ferragem”.

Nos anos seguintes, a povoação surgida nessas terras, a meio caminho entre o Recife e Igarassu, tornou-se um local acolhedor para os viajantes, principalmente homens de negócios que ali paravam para refeições ou pernoite. A parte central desse povoado ganhou a denominação de Maricota, que se supõe vir do início do século XVIII. O documento mais antigo até agora encontrado que faz alusão ao nome Maricota é de 16 de fevereiro de 1784, guardado nos arquivos da igreja dos santos Cosme e Damião de Igarassu, que se refere ao batismo de um tal Francisco Nunes de Oliveira, realizado na capela de São Miguel do Engenho Inhamã, citando seus pais como sendo residentes em Maricota, então povoado de Igarassu.[7]

Só por volta de 1800 é que novamente se tem notícia de vida produtiva no Engenho Jaguaribe. Em abril de 1812 foi o mesmo arrendado pelo cronista Henry Koster que era português e filho de pais ingleses. Koster residiu no Engenho durante 1 ano e 8 meses. Assim ele relata:
Em princípios de abril de 1812 tomamos posse de um engenho em Jaguaribe, distante 4 léguas do Recife, na direção do norte, e uma légua do mar. Estava provido por muitos escravos, bois, maquinários, acessórios.[8]

Segundo Koster, Jaguaribe possuía uma bela vista de onde dava para se ver os manguezais, plantações de mandioca e de milho. A capela de São Bento funcionava com atividades religiosas regulares, apesar de inacabada e com morcegos como moradores, ouviam-se de longe o toque freqüente do sino.
As terras ao meu redor para o Norte, pertenciam aos Frades Beneditinos; E ao Oriente a uma velha senhora; Aqueles do último eram muito negligenciado, mas aqueles que possuíam o primeiro estavam em alta ordem. Para o Sul, além da madeira através da qual passei chegando a Jaguaribe, são as terras dos paulistas; E para o oeste e o Noroeste são algumas terras de cana excelentes, pertencem a uma irmandade religiosa de negros livres de Olinda.[9]

Durante o movimento conhecido como Confederação do Equador, Frei Joaquim do Amor Divino Caneca escondeu-se nas matas do Engenho Utinga, nos dias 16 e 17 de setembro de 1824, tentando escapar de seus perseguidores. Encontrado três meses mais tarde no Ceará, foi levado Recife, onde foi arcabuzado no Forte das Cinco Pontas, a 13 de janeiro de 1825[10].

No dia 10 de novembro de 1848 travou-se em Maricota a primeira batalha da Revolução Praieira, deflagrada três dias antes, na cidade de Olinda, entre os revoltosos  praieiros e as forças do legalistas do governo. No dia 1º de janeiro de 1849 foi lançado, no Engenho Inhamã, o “Manifesto ao Mundo”, com os postulados da Revolução Praieira. [11]
No dia 04 de dezembro de 1859 quando o imperador D. Pedro II, visitando e vistoriando obras em Pernambuco, passou em Maricota com sua comitiva real, registrando o fato no seu “Diário de Viagem”, no qual menciona também a estrada dos tropeiros, das boiadas do norte que ele denomina de “estrada do contrato”, provavelmente por envolver verba real nas suas obras. [12]

Nas terras de Maricota pode-se perceber a existência dos Engenhos Inhamã, Utinga, Timbó e Jaguaribe. O distrito policial de Maricota foi criado no dia 22 de julho de 1863 pelo presidente da província, João Silveira de Souza, que nomeou como subdelegado Antônio Borges Galvão Uchoa. No dia 28 de agosto de 1883 foi lavrada escritura de concessão para a construção de uma estrada de ferro, partindo do Engenho Timbó até o Jaguaribe. A autorização fora solicitada pelo proprietário do Timbó, Francisco Theófilo da Rocha Bezerra, aos proprietários do Jaguaribe, Rosa Francelina de Queiroz Dourado Cavalcanti e José Cavalcante de Albuquerque Gadelha e sua esposa, Francisca Bandeira de Fraga Gadelha, para que os trilhos pudessem passar por suas terras. [13] Contudo, a mesma nunca foi construída.

Em 1885 José Dias Feijó e sua esposa, Henriqueta Francisca Pereira, separaram parte da propriedade em que moravam para que se levantasse uma capela dedicada a São José e um cemitério, sendo este santo adotado como padroeiro da cidade até hoje[14]. O pároco de Igarassu, Floriano de Queiroz Coutinho iniciou com a comunidade a construção da capela.

Parte da região que compreende a cidade de Abreu e Lima que veio pertencer ao município do Paulista foi adquirida por Manoel Álvares de Morais Navarro. Navarro, por ser natural de São Paulo era conhecido como “O Paulista”, e veio acompanhar o bandeirante Domingo Velho para a guerra da conquista dos Palmares, em 1869[15].  Adquirindo as terras mudou o nome para “Engenho do Paulista”, e o local ficou conhecido como terras do Paulista, vinculado à cidade de Olinda até setembro de 1935, quando por através de um plebiscito veio a se emancipar. Elevado à categoria de município definitivamente com a denominação de Paulista, pela Lei Estadual n° 11, de 04 de setembro de 1935, desmembrado de Olinda, com sede no antigo distrito de Paulista. Foi instalado no dia 12 do mesmo mês e ano.[16]

Em 1948 pela Lei Estadual n° 421, de 31 de dezembro de 1948, o distrito de Maricota recebeu o topônimo de Abreu e Lima em homenagem a José Inácio de Abreu e Lima (1794-1869). Ele era filho do Padre Roma, que participou da Revolução Pernambucana e foi executado na frente dos próprios filhos. Foi político, escritor, jornalista e general, o "Inácio pernambucano", que lutou quatorze anos ao lado de Simón Bolívar, um dos heróis da independência da Venezuela, chamado de “O general das Massas”. Sepultado no cemitério dos ingleses.

O distrito foi criado pelo Decreto-lei Estadual n° 235, de 9 de dezembro de 1938, pertencendo ao município de Paulista, a povoação foi oficializada com o nome de Maricota. A Lei Estadual n° 4.993, de 20 de dezembro de 1963, elevou o distrito à categoria de município, o qual foi extinto em 27 de agosto de 1964 pelo Acórdão do Tribunal de Justiça, mandado de segurança n° 56.889. Em 14 de maio de 1982 a Lei Estadual n° 8.950 elevou novamente Abreu e Lima à categoria de município, desmembrado de Paulista, com sede no antigo distrito, tendo sido instalado em 31 de março de 1983.

O município foi emancipado em 1982, através do voto popular em plebiscito realizado ao dia 9 de maio daquele ano, após quatrocentos anos sob o domínio político e administrativo de Igarassu, e outros 47 subordinados à cidade de Paulista, o que se tornou realidade no dia 14 de maio de 1982 após assinatura do decreto que também emancipava os distritos de Itapissuma e Camaragibe.

Abreu e Lima é o município brasileiro com maior percentual de habitantes evangélicos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): 35% dos 97 mil habitantes são praticantes dessa religião.O número expressivo motivou a criação da Lei Municipal 632, em 2008, que fixa 31 de outubro como feriado, o Dia da Consciência Evangélica.[17]

Organizado por Flávio Alves
Historiador (UFPE)
Favor citar a fonte.








[1] PERNAMBUCO. Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco (Condempe Fidem). Município Abreu e Lima. Recife, 2015. Disponível em: ttp://www.condepefidem.pe.gov.br/c/document_library/get_file?p_l_id=18393234&folderId=18394117&name=DLFE-89503.pdf. Acesso em: mar. 2015.
[2] ABREU E LIMA, Assembleia de Deus em. Síntese Histórica – 90 Anos. Flamar, Recife, 2008. Pag. 31.
[3] PERNAMBUCO. Loc. Cit.
[4] PERNAMBUCO. Loc. Cit.            
[5] http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cidades/geral/noticia/2015/10/07/arqueologos-da-ufpe-localizam-ruinas-de-engenho-do-seculo-16-em-abreu-e-lima-202474.php. Acessado dia 03/06/2017.
[6] Que foi casado com uma descendente de Jerônimo de Albuquerque, possuidor de diversos engenhos, inclusive o de Inhamam. O mesmo participou da Restauração Pernambucana. Conf.: GASPAR, Lúcia. João Fernandes Vieira. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acessado em: 03/06/2017.
[7] ASSEMBLEIA, Op. Cit. Pag. 31.
[8] PERNAMBUCO. Loc. Cit.
[9] KOSTER, Henry. Travels in Brazil, 1816. Pag. 211.
[10] PERNAMBUCO. Loc. Cit.
[11] PERNAMBUCO. Loc. Cit.
[12] Idem.
[13] Idem.
[14] http://www.abreuelimaemdestaque.com.br/2015/03/festa-de-sao-jose-padroeiro-da-cidade.html. Acesso em: 03/06/2017.
[15] ASSEMBLEIA, Op. Cit. Pag. 31.
[16] Arquivo do IBGE. Conf. https://archive.is/Gg8QA.
[17] http://www.feriadosmunicipais.com.br/pernambuco/abreu-e-lima/. Acesso em: 03/06/2017.