segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Os Astecas Parte I


Os astecas eram um povo indígena da América do Norte, pertencente ao grupo nahua. Os astecas também podem ser chamados de mexicas (daí México). Migraram para o vale do México (ou Anahuác) no princípio do século XIII e assentaram-se, inicialmente, na maior ilha do lago de Texcoco (depois todo drenado pelos espanhóis), seguindo instruções de seus deuses para se fixarem onde vissem uma águia pousada em um cacto, devorando uma cobra. Foi nessa área que o sacerdote Quauhcoatl (Serpente-águia) recebeu de Huitzilopochtli a ordem de construir um templo.

Os historiadores da Escola de Berkeley estimam que haviam cerca de 25 milhões de habitantes na mesoamérica no início do século XVI. Desde os inícios do século XV, a região era organizada por cidades-estados, das quais a cidade asteca Tenochtitlán era a mais forte e poderosa. Desde 1425 os astecas assumiam a hegemonia na região. Conseguiram isso firmando alianças com outras duas cidades: Texcoco e Tlacopán, contra Atzcapotzalco e continuaram a conquistar outras cidades do vale até tornar o México em um império ou Confederação Asteca, cuja base econômica era o modo de produção tributário, cuja estrutura posteriormente  serviu muito bem aos interesses dos colonizadores espanhóis.

Este povo inicialmente começaram ocupando as cavernas da região, e não progrediram sucessivamente e continuamente, mas em lentas vagas. Pouco se sabe sobre as fases inciais do povo asteca, provavelmente as famílias eram guiadas por sacerdotes de Huitzilopochtli, que atuavam como intermediários entre os deuses e os homens. As tribos dividiam-se em clãs com seus representantes que formavam o conselho dos anciãos.

Soustelle acredita numa teocracia sobreposta a uma “democracia tribal tradicional”.

Segundo Jorge Luis Ferreira, os astecas possuíam uma superioridade cultural e isso justificaria sua hegemonia política sobre as inúmeras comunidades nestas regiões, o que era argumentado por eles mesmos. Os astecas enfrentaram resistências dos povos já instalados. A tradição diz que o primeiro monarca Uitziliuitl foi vencido, capturado e sacrificado.  Após vagar por terras estéreis, acabaram se instalando por volta de 1325 na área pantanosa a oeste do grande lago Texcoco.

Falaremos de três grandes aspectos da civilização asteca: Religião, Sociedade, Tecnologia.

Religião

A religião politeísta dos astecas acreditava que o derramamento de sangue humano ao sol evitaria que a engrenagem do mundo não parasse. O seu panteão de deuses era composto de cultos familiares, forças naturais e dos astros. Seus deuses eram uma herança dos povos mesoamericanos, notadamente de Teotihuacán e de Tula.

As concepções de criação do Universo assentavam-se na crença de um casal primordial, senhores e senhoras da dualidade, origem de todos os seres e até dos deuses. Os deuses no momento da criação do sol, origem de todos os homens. Segundo o mito, os deuses teriam se reunida a Teotihuacán e um deles, 
Nanauatzin, lançando-se no fogo transformou-se em astro. Mas, o movimento do sol carecia de sangue, por isso os outros deuses se sacrificaram oferecendo seu coração ao astro. Esta necessidade de sangue exerceu caráter basilar da religião asteca e não apenas fez milhares de vítimas como também serviu de justificativa para as guerras.

"Huitzilopochtli, deus-sol, deus tribal asteca e deus dos guerreiros, era, portanto, a divindade fundamental deste povo. Ao seu lado, figurava Tláloc, deus da chuva, divindade dos camponeses, responsável pela fertilidade e pelo alimento dos homens. " Sol e chuva, diz-nos J. Soustelle, as duas grandes forças que dominam o mundo, associavam-se no alto de uma cidade fundada por nômades guerreiros que se converteram em sedentários"

Quetzalcóad, (Figura à esquerda) serpente emplumada, o rei-deus dos toltecas, espécie de "herói civilizador" a quem se atribuía a criação do calendário, da arte e de todos os costumes belos da comunidade, numa tradição que remonta aos tempos de Teotihucán. Mas o mito de Quetzalcóatl trazia consigo uma ameaça: o retorno do deus pelo oeste, dizia a lenda, significaria o fim dos tempos, o esperado desfecho da era do Sol. Tal idéia escatológica coincidiu com a chegada dos espanhóis e agiu de forma "terrorista" e desinstimuladora na mente dos guerreiros e do povo Asteca no momento da invasão. Seriam eles os espanhóis os deuses retornando ao seu mundo?

Há referências a um Deus sem face, invisível e impalpável, desprovido de história mítica para quem o rei de Texoco, Nezaucoyoatl, mandou fazer um templo sem ídolos, apenas uma torre. Esse rei o definia como "aquele, graças a quem nós vivemos".

Sociedade

De início, uma sociedade igualitária regida por sacerdotes, tornaram-se complexas e rigidamente dividida em hierarquias em constante transformações.

Para compreendermos o funcionamento da sociedade asteca, convém focalizarmos Tenochtitlán. Segundo Vainfas, a cidade asteca em 1519 contava com aproximadamente 300 mil habitantes, o fazia dela uma cidade muito maior do que a maioria das cidades europeias daquela época. Ela funcionava como monarquia eletiva, onde o imperador chamado de "tlatoani" saia das fileiras dos grandes guerreiros astecas. Exercia a o comando geral de guerra, e era auxiliado nas funções administrativas por um conselho tribal, chamado de Tlatocán. Esse conselho era a base do corpo eleitoral e era composto dos chefes tribais. Durante o século XV, o Tlatocán foi perdendo foi perdendo importância e distanciou-se gradativamente do povo. 

No livro Historia General de las Cosas de Nueva Espariado Frei Bernardino de Sahagún, os membros de cada camada dirigente começaram a gozar de muitos prestígios sociais como o de não ser obrigado a trabalhar na terra.

Faziam parte dessa camada dirigente: Os calpixqui, que eram os cobradores de impostos, grandes sacerdotes do sol e da chuva, os diversos chefes administrativos (tecuhtli) e, notadamente, pipiltin (nobreza) eram formados pelos guerreiros-águia e os guerreiros-jaguar - corporações militares de elite. Com o passar do tempo, formou-se uma espécie de nobreza hereditária (tlatoque) que praticava a poligamia masculina, ocupante perpétua das funções de Estado. Podiam participar também alguns plebeus (macehualtin) que tivessem realizado algum ato extraordinário. Tomar chocolate quente (xocoatl) era um privilégio da nobreza. O resto da população era constituída de lavradores e artesãos. Havia, também, escravos (tlacotin). 

Nesta sociedade guerreira o serviço militar era uma forma de ascende socialmente e receber promoções por méritos. Mas, no sacerdócio também tinha estas oportunidades, pois nem o serviço militar e nem o sacerdócio era vedado aos plebeus.

Resumidamente, de forma ascendente a sociedade asteca era formada basicamente:

  • Tlatlacotin (TLACOTLI) – escravos – prisioneiros de guerra, vítimas sacrificiais, condenados, degradados no jogo e na bebida, membros de família endividada.
  • Macehualtin que eram camponeses organizados em comunidades, os calpulli. Esses calpulli foram chamados pelos espanhóis de bairros. Cada calpulli possuía um chefe, o calpullec. Esses macehualtins eram simples cidadãos e que eram obrigados a prestarem serviço militar e corvéia; pagava tributo e recebia ajudas do poder central; aos 20-25 anos recebia lote de terra, seus filhos recebiam educação.
  • Tlalmaitl – camponeses sem terra, obrigados a serviço militar, mas não a corvéia.
  • O comércio local ficava com os maucehualtin, mas os grandes rotas dos grandes comerciantes ficavam com os pochtecas (grandes comerciantes)
  • sacerdotes, dignitários civis e militares.
Também existiam outros níveis e desníveis hierárquicos na sociedade asteca no momento da chegada dos colonizadores. Os artesãos não eram vistos como uma camada “mecânica”. Dividiam-se entre os que trabalhavam pedras preciosas, plumas, tecelagem. Atendiam a domicílio ou nas suas oficinas.

A impressão de conjunto é, portanto, a de uma sociedade diversificada, rigidamente hierarquizada e potencialmente em transformação — processo violentamente abortado pelo impacto da conquista espanhola.

Em 1519 existiam 38 províncias, unidades mais econômicas do que políticas. As rivalidades internas tiveram um alto preço na invasão espanhola.

O Codex Mendoza e a Matrícula de Tributos informam a grande variedade de produtos que eram passiveis de ser recolhidos pela tributação:

tecidos de algodão e de ixtle (agave); cereais, grãos, cacau, algodão, ouro, objetos de luxo, pedras preciosas, madeiras, mel, dentes de crocodilo, peles de jaguar, armas, pássaros exóticos, incenso, cogumelos alucinógenos, etc...

Prestava-se ainda “corvéia” de serviços na manutenção de palácios, estradas e fortes.

O imperador

Os imperadores astecas, (Tlatoani) era também o chefe militar, TLACATECUHTLI. Em língua Nahuatl eram chamados Hueyi Tlatoani ("O Grande Orador"), termo também usado para designar os governantes das altepetl (cidades). Os imperadores astecas foram os maiores responsáveis tanto pelo crescimento do império, como para a decadência do mesmo. Ahuizotl, por exemplo, foi ao mesmo tempo o imperador mais cruel e o responsável pela maior expansão do império. Já Montezuma II (ou Moctezuma II), tendo sido um imperador justo e pacifico, foi também fraco em suas decisões, permitindo que os espanhóis entrassem em seus domínios, mesmo após a circulação de histórias de que estes teriam massacrado tribos, abalando fatalmente a solidez de seu império, e finalmente degenerando na sua extinção.
A sucessão dos imperadores astecas não era hereditária de pai para filho, sendo estes eleitos por um consenso entre os membros da nobreza.

Lista de imperadores
  1. Acamapichitli (1376–1395)
  2. Huitzilíhuitl (1395–1417)
  3. Chimalpopoca (1417–1427)
  4. Itzcóatl (1427-1440)
  5. Montezuma I (1440-1469)
  6. Axayacatl (1469-1481)
  7. Tízoc (1481-1486)
  8. Ahuizotl (1486-1502)
  9. Montezuma II (1502-1520)
  10. Cuitláhuac (1520)
  11. Cuauhtémoc (1520-1521)
Continua...

Os Olmecas

"A história dos povos sem história", expressão de Henri Moniot, tem início com o povo olmeca. Acredita-se que seja a civilização precursora de todas as demais que ocuparam a mesoamérica antes da chegada dos colonizadores espanhóis. 

Na "mesoamérica", expressão criada por Paul Krichhorf para designar a parte do México, limítrofe com a América Central que já se encontrava "civilizada" na chegada dos colonizadores espanhóis.Comporta ampla gama cronológica, espacial e cultural de povos ligados por elementos comuns.
Embora esteja todos em região tropical, as formatações geográfica de relevo provocam uma ampla diversidade de paisagens. Essa diversidade climatológica provocada por questões geográficas produz uma ampla gama de perfis produtivos e intricada rede de comércio. Que posteriormente deixou como heranças para os povos mais recentes.

Acredita-se que foi o povo olmeca quem deixou os traços característicos comum dos povos que ocuparam a região antes da chegada dos colonizadores. Os olmecas surgem no período de aproximadamente 1.500 a. C., experimentam grande salto cultural entre 1.200 e 900 a. C. e desaparecem cerca de 400 a.C. Sua cultura destaca-se pela presença de pirâmides, estelas esculpidas, baixo relevo, uso do jade, escrita hieroglífica, e contagem de tempo. Sua forte orientação pelos pontos cardeais indicam que possuíam certo conhecimento astronômico.

Seus centros principais eram San Lorenzo e La Venta. Nesta última encontra-se uma pirâmide com 120 metros de diâmetro e 30 metros de altura, além de outra menor com estrutura em degraus, cujo estilo dominou todos os demais povos meso-americanos. Essas pirâmides foram construídas sobre aterros com pedras de 25 toneladas, transportadas de longe e talhadas sem uso de metal algum. Mais tardiamente, se atribui-se outros centros aos olmecas: Tres Zapotes e Cerro de Las Mesas. No vale mexicano encontra-se influência olmeca em Ayotla, Tlatilco, Cuicuilco.

Eles cultivam enormes plantações de milho, feijão e abóbora, chamados de milpas. Também se destaca os Tianguis, que são mercados ao céu aberto onde as populações se reuniam periodicamente para trocar produtos e era onde manifestava-se as expressões religiosas. Existem indícios de que já era uma sociedade fortemente regida pela religião.

Os olmecas apresenta sua importância como o povo que deixou presente uma forte herança nos povos da mesoamérica: 
  • Potencializou a economia regional com as trocas inter-regionais de produtos.
  • Diversificação progressiva de atividades específicas numa sociedade complexa que possuía tendencia de se hierarquizar-se cada vez mais.
  • Havia um consumo suntuário de produtos para prestígio social. Onde produtos de luxo as vezes vinham de muito longe através de longas rotas comerciais.
  • Primeiros avanços técnicos, artísticos, urbanísticos e astronômicos.

Flávio Alves
História-UFPE